De barra a cerveja proteica: produtos com proteína são saudáveis?

Basta uma ida ao supermercado e é possível encontrar uma diversidade de produtos proteicos: barras, bebidas, doces e iogurtes chegam a conter até 20 gramas de proteína por porção, e têm ganhado popularidade por oferecer uma forma prática, saborosa e fácil de suprir as necessidades diárias do macronutriente. Mas até que ponto o consumo desse tipo de produto é, de fato, saudável?

Até pouco tempo atrás, as opções de suplementos proteicos eram limitadas. O Whey Protein, ou proteína do soro de leite, era o mais comum e usado, majoritariamente, por atletas profissionais e amadores que buscavam a manutenção ou ganho de massa muscular. Atualmente, é vasta a variedade de produtos proteicos.

Recentemente, a marca brasileira Beer Protein lançou a cerveja proteica, uma alternativa vendida como “saudável” para quem gosta da bebida, mas possui uma preocupação maior com o consumo de proteínas. O produto oferece 10 gramas de proteína, 28 gramas de carboidratos, 193 calorias e 4,6% vol. de teor alcoólico por lata de 355 mililitros (mL).

Mas a oferta de produtos proteicos vai ainda além. Hoje, também são vendidos doces em versões com proteína, como sorvetes. A marca Momo Gelato, por exemplo, lançou no final do ano passado a linha “PS – Proteína & Sem Açúcar”, com opções de sorvetes feitas com Whey Protein, leite integral e adoçantes naturais que trazem até 12,8 gramas de proteína em porção de 100 gramas.

Há, ainda, o refrigerante proteico. A marca Mooving, por exemplo, oferece uma bebida zero açúcar com até 20 gramas de proteína por lata de 310 mL, além de 3 gramas de creatina, outro suplemento alimentar famoso por auxiliar no ganho de força e massa muscular.

“Existe uma tendência ao consumo de produtos proteicos na população em geral em função do modismo relacionado ao ganho de massa muscular e perda de peso. Mas sabemos que isso depende não somente da ingestão proteica, mas da ingestão calórica total e da realização de atividade física”, afirma Daniela Gomes, nutróloga do Hospital Albert Sabin, em São Paulo, à CNN.

Na visão da especialista, a “febre das proteínas”, relacionada ao maior consumo desse tipo de produto, pode estar relacionada à facilidade que eles oferecem para o aporte do nutriente, mas sem necessariamente fazer o consumidor se comprometer, de fato, com uma alimentação saudável.

“Esses produtos proteicos são vendidos como alternativas saudáveis, mas, na verdade, não são. Trata-se de produtos ultraprocessados, de prateleira, de longa duração, e que, no geral, têm uma quantidade de gordura presente e embutida”, alerta.

Consumo deve ser feito com cautela e aliado a uma dieta equilibrada e treino

Para Eric Slywitch, doutor e mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), existe uma interpretação equivocada sobre o consumo de alimentos proteicos.

“Nós sabemos que a proteína é um nutriente fundamental e que precisa ser consumido, já que possui aminoácidos que não produzimos, os ‘aminoácidos essenciais’”, explica à CNN. “Mas essa ideia de que as proteínas vão ajudar a ter mais músculo é um pouco deturpada, porque, para que isso aconteça, é preciso praticar atividade física. O estímulo da contração muscular é o principal elemento para a hipertrofia. A proteína, na verdade, entra como recurso para a construção dessa massa muscular”, completa.

Além disso, o especialista alerta para o maior consumo de proteína sem o aporte adequado de carboidratos. “Quando ocorre a baixa ingestão de carboidrato, é possível perder mais massa muscular. Então, não adianta apenas fazermos uma ingestão elevada de proteínas sem dar o aporte adequado de carboidrato”, ressalta.

Por isso, o consumo de suplementos proteicos — seja ele feito através de Whey Protein ou por meio de produtos como bebidas, iogurtes, doces, entre outros — deve fazer parte de uma alimentação equilibrada e aliada à prática de atividade física.

“Se por um lado, eu tenho uma situação em que a minha ingestão proteica é baixa, em todas as minhas refeições, se eu tiver ao longo do dia algumas fontes mais concentradas de proteínas, isso pode me ajudar”, exemplifica Slywitch. “Por outro, se há um produto proteico cheio de sódio, sem nenhuma fibra adicionada e com uma série de produtos químicos, eu ofereço outros elementos nocivos para o organismo, não tendo um aspecto interessante nesse balanço total”, completa.

Por isso, a dica é estar atento ao rótulo e à tabela nutricional dos produtos. A principal forma de diferenciar um alimento ultraprocessado daquele minimamente processado é a lista de ingredientes: se houver muitos itens químicos, com nomes difíceis de serem pronunciados, é provável que o produto seja ultraprocessado.

Alguns exemplos de características presentes em um alimento industrializado são:

  • Aditivos químicos (corantes, conservantes, aromatizantes, emulsificantes, estabilizantes);
  • Ingredientes derivados de alimentos (óleos hidrogenados, maltodextrina, xarope de glicose, proteínas isoladas, amidos modificados);
  • Ausência de ingredientes frescos ou minimamente processados;
  • Sabor, textura ou aroma que não poderia ser obtido de forma natural (como, por exemplo, os refrigerantes e salgadinhos de pacote);
  • Embalagem que promove o produto como “pronto para consumo” ou “vida útil longa”;
  • Lista de ingrediente com nomes desconhecidos ou complexos (como, por exemplo, “glutamato monossódico”).

Cuidado com o excesso de proteínas

Uma dieta hiperproteica, ou seja, rica no consumo de proteínas sem o acompanhamento nutricional, pode trazer riscos à saúde. “O maior deles é ingerir proteínas em uma quantidade maior do que a necessária para o seu peso. Além disso, muitas fontes proteicas podem ter gordura embutida e, consequentemente, aumentar o risco de colesterol alto”, alerta Gomes.

O consumo em excesso de proteínas também pode trazer alterações na microbiota intestinal, ou seja, na composição de bactérias saudáveis que vivem no intestino.

“Nós começamos a produzir produtos como indol, p-cresol, que são elementos que as bactérias intestinais começam a produzir em maior quantidade e que têm um efeito sistêmico muito negativo para quadros demenciais, para doença cardiovascular, para diabetes e para câncer”, afirma Slywitch.

Outro ponto, analisado por estudos, é o efeito na longevidade. “Todas as pesquisas mostram que dieta hiperproteica e longevidade não são compatíveis. O que nos faz viver mais é uma adequação proteica sem se exceder”, afirma.

De maneira geral, para calcular a quantidade necessária de proteína diária é feito multiplicando o peso corporal em quilogramas pelo número de gramas de proteína por quilo — que pode variar de 0,8 gramas a 2 gramas por quilo de peso corporal a depender da quantidade de atividade física e objetivos pessoais. Por exemplo, uma pessoa que pesa 60 kg deverá consumir de 48 gramas a 120 gramas de proteína por dia.

Prefira opções mais naturais

Para quem busca introduzir mais proteína na alimentação, o primeiro passo é buscar orientação nutricional, se possível. O acompanhamento profissional é capaz de ajustar a ingestão proteica diária de acordo com as necessidades individuais, levando em consideração objetivos estéticos (como ganho de massa muscular ou emagrecimento) e condições pré-existentes.

Feito isso, é importante variar as fontes de proteína ao longo das refeições. Se possível, ao invés de optar por itens industrializados, prefira opções naturais, como ovo cozido, queijo, iogurtes naturais, grão-de-bico, tofu e o próprio Whey Protein.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em De barra a cerveja proteica: produtos com proteína são saudáveis? no site CNN Brasil.

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