Restos de foguetes Blue Origin e SpaceX caem nas Bahamas e na Europa

Uma enorme parte do cone frontal de um foguete da Blue Origin foi encontrada na costa de uma ilha das Bahamas, próximo a um destino turístico. Na Europa, destroços em chamas de um veículo de lançamento da SpaceX cruzaram o céu alemão, e o que parece ser um tanque de combustível pode ter pousado em uma propriedade empresarial na Polônia.

Os incidentes não estão relacionados ao foguete Starship da SpaceX que explodiu no ar durante um voo de teste em janeiro, espalhando destroços próximo a Turks e Caicos, onde os residentes afirmam que ainda trabalham para limpar os detritos das praias, estradas e baías.

Essa situação levantou questões sobre os padrões de segurança para voos de teste de veículos de lançamento não comprovados que viajam sobre centros populacionais.

 

Mas os dois eventos relacionados a detritos espaciais desta semana nas Bahamas e na Europa indicam como lançamentos bem-sucedidos de foguetes também podem deixar suas marcas na Terra. Eles também destacam como o aumento no número de foguetes decolando a cada semana aumentou a probabilidade de que lixo espacial encontre seu caminho de volta para áreas povoadas.

De acordo com a Agência Espacial Europeia (ESA), destroços caem em nosso planeta vindos do espaço o tempo todo — embora a maioria seja reduzida a pedaços ao mergulhar de volta na espessa atmosfera da Terra a milhares de quilômetros por hora. “Satélites e partes de foguetes de tamanho moderado reentram quase diariamente, enquanto objetos pequenos de detritos espaciais rastreados reentram com ainda mais frequência”, disse a agência.

A parte do foguete da SpaceX que cruzou os céus europeus esta semana foi, no entanto, uma ocorrência rara. Os destroços vieram do segundo estágio de um foguete Falcon 9 que havia realizado uma missão de rotina. O veículo decolou da Califórnia em 1º de fevereiro, transportando um lote de aparelhos para a rede Starlink da SpaceX, que transmite conectividade à internet do espaço.

Mas enquanto a missão principal de entregar satélites ao espaço foi bem-sucedida, o estágio superior do foguete — ou a parte que se acende após atingir o espaço para finalizar uma missão — não completou uma amerissagem controlada no meio do oceano como é típico, segundo Jonathan McDowell, astrofísico do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica.

Com base em informações preliminares, a parte do foguete Falcon 9 foi arrastada para fora da órbita de maneira descontrolada, o que provavelmente explica por que o veículo aparentemente reentrou na atmosfera terrestre sobre a Europa e caiu esta semana.

Fotos e vídeos postados nas redes sociais mostram o estágio superior do foguete, que se desintegrou em pedaços ao mergulhar de volta do espaço, atravessando o céu. Indo trabalhar cedo na última quarta-feira (19), um maquinista alemão capturou o evento em vídeo após avistar “uma constelação muito estranha de luzes voadores no céu”.

“No início, fiquei me perguntando que tipo de objetos voadores poderiam ser”, disse o maquinista, identificado como Ludi, em um e-mail à CNN. “Pensei em estrelas cadentes, cometas, meteoros ou até mísseis”.

A Agência Espacial Polonesa também abordou o incidente em um comunicado, observando que a trajetória da parte do foguete o levaria em direção à Polônia. Imagens do que parece ser um tanque de combustível intacto que pode ter pousado perto de Poznań, no território polonês, também começaram a circular nas redes sociais e em notícias locais.

A empresa polonesa de hardware e suprimentos Elektro-Hurt compartilhou fotos da parte descartada do foguete — apoiada contra uma cerca de arame em sua propriedade — chamando-a de “entrega extraordinária”.


Os destroços da carenagem da carga útil, ou cone do nariz, do foguetão New Glenn da Blue Origin aparecem numa praia das Bahamas depois de terem dado à costa
Os destroços da carenagem da carga útil, ou cone do nariz, do foguetão New Glenn da Blue Origin aparecem numa praia das Bahamas depois de terem dado à costa • Judy Fortenberry via CNN Newsource

Ainda não está claro por que o estágio superior do Falcon 9 não completou uma descida regular e controlada no oceano. A SpaceX não respondeu a um pedido de comentário, embora a CNN tenha confirmado com a Administração Federal de Aviação que funcionários da empresa estão trabalhando para verificar se os destroços se originaram do Falcon 9.

A FAA, que licencia lançamentos comerciais de foguetes, informou à CNN que a agência não iniciou uma investigação sobre um possível incidente com o Falcon 9 imediatamente após o lançamento de 1º de fevereiro. Mas a SpaceX tem 90 dias para relatar uma anomalia, ou mau funcionamento do foguete, de acordo com a FAA.

Em uma entrevista no mês passado, Marlon Sorge — diretor executivo do Centro de Estudos de Detritos Orbitais e Reentrada da The Aerospace Corporation, um centro de pesquisa financiado pelo governo federal — disse que detritos espaciais podem ser perigosos.

Lixos espaciais podem representar riscos para pessoas em terra que entram em contato com o objeto, particularmente se combustíveis tóxicos estiverem envolvidos. Mas isso é apenas parte do perigo, disse Sorge, observando que mesmo propelentes não tóxicos são “ainda voláteis, como gasolina”.

Os tanques podem ser especialmente perigosos de manusear, segundo Sorge: “Se estiverem fragilizados e você tocá-los, eles explodem”, acrescentou. “Não é que seja (sempre) uma sentença de morte chegar perto de uma dessas coisas”, disse Sorge sobre detritos espaciais. “Na maioria das vezes eles proavelmente estão OK, mas é potencialmente arriscado. E não vale a pena as pessoas se machucarem”.

O pedaço de destroço da Blue Origin que apareceu nas Bahamas não é sinal de um lançamento de foguete que deu errado. Na verdade, o destroço — um grande pedaço do cone do nariz do veículo com assinaturas dos funcionários da Blue Origin — parece ter sido descartado conforme o esperado do objeto New Glenn da empresa durante seu voo inaugural em 16 de janeiro.

O cone do nariz, ou coifa de carga útil, é projetado para proteger satélites durante o lançamento e se separar do veículo após atingir o vácuo do espaço. E enquanto a SpaceX tenta recuperar pedaços da coifa quando eles caem de volta à Terra, esperava-se que o New Glenn da Blue Origin descartasse seu cone do nariz no oceano.

Parece ter sido o que aconteceu antes que as ondas forçassem um pedaço flutuante do equipamento para as praias de uma ilha nas Bahamas, de acordo com uma publicação nas redes sociais na última segunda-feira (17). “Alguém tem força muscular para puxar estes destroços de nave espacial para a praia”, diz a publicação, chamando-o de perigo e uma “descoberta histórica”.

A Blue Origin confirmou que destroços da coifa do New Glenn apareceram nas Bahamas. “Alguns destroços menores da coifa do New Glenn chegaram à costa em Abaco, Bahamas, durante o fim de semana”, disse a empresa em um comunicado à CNN na última terça-feira (18). “O pouso da coifa no mar foi planejado e esperado. Enviamos uma equipe para recuperar as peças”.

A Blue Origin incluiu informações de contato para membros do público que possam encontrar detritos espaciais. As pessoas podem informar ocorrências por telefone no 321-222-4355 ou por e-mail [email protected]. A Nasa também pode ser contatada no 202-358-0001. E a SpaceX tem seu próprio e-mail para recuperação de destroços: [email protected].

A empresa de Elon Musk já lidou com detritos caindo em áreas povoadas mesmo antes do incidente com o Starship em janeiro. Em 2021, por exemplo, um tanque de combustível do Falcon 9 caiu em uma fazenda no estado de Washington. E no ano seguinte, um pedaço de uma cápsula Dragon da SpaceX foi recuperado na Austrália.

Uma série de outros incidentes também viraram manchetes, desde um misterioso objeto em forma de anel que caiu em uma vila no Quênia no final de dezembro até lixo da Estação Espacial Internacional atingindo uma casa familiar na Flórida no ano passado.

Mas agências espaciais e reguladores mantêm que detritos espaciais representam um risco mínimo para áreas povoadas. “Peças que sobrevivem raramente causaram algum dano no solo. O risco de qualquer reentrada de satélite causar ferimentos é extremamente remoto”, disse a Agência Espacial Europeia em um comunicado. “O risco anual de um indivíduo ser ferido por detritos espaciais é menor que 1 em 100 bilhões. Em comparação, uma pessoa tem cerca de 65.000 vezes mais chances de ser atingida por um raio”.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Restos de foguetes Blue Origin e SpaceX caem nas Bahamas e na Europa no site CNN Brasil.

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