Escolas de samba alegam “censura temática” de prefeitura em enredos no RS

Escolas de samba de Canoas (RS) denunciaram o cancelamento do carnaval de 2025 pela prefeitura. O cancelamento da festa foi justificada pela administração municipal seria a necessidade de priorizar recursos para a saúde e a realização de um evento no dia 1º de maio para um “público mais amplo”.

Os representantes das escolas alegam preconceito e discriminação, afirmando que sofreram restrições temáticas em seus enredos. A prefeitura de Canoas anunciou que, em 2025, não haverá repasses financeiros para as celebrações de Carnaval por escolas de samba, priorizando recursos para a Saúde, especialmente para o pagamento de salários atrasados de médicos.

De acordo com a Associação das Escolas de Samba de Canoas (AESC), a decisão de cancelamento foi comunicada em reunião com o secretário municipal da Cultura, Pinheiro Neto, no dia 29 de janeiro. Na ocasião, o secretário teria justificado o cancelamento pela necessidade de realocar recursos da cultura para a saúde, além da intenção de realizar um evento no dia 1º de maio.

As escolas de samba alegam que, além do corte de verbas, também sofreram restrições temáticas. Segundo os representantes, o secretário Pinheiro Neto teria pedido que temas como orixás, questões LGBTQ+ e assuntos que pudessem ser considerados ofensivos a religiões fossem evitados nos enredos, devido à religião do prefeito. Os representantes das escolas de samba afirmam que se sentiram discriminados com a solicitação.

Quebra de expectativas

Representantes da AESC afirmam que já vinham se organizando para o carnaval de 2025, que estava programado para o dia 5 de abril, com a participação de oito escolas. Além disso, alegam terem buscado recursos através de leis de incentivo e emendas parlamentares.

Para Daniel Scott, vice-presidente da Associação das Escolas de Samba de Canoas (AESC), que afirmou que representantes das escolas, antes da posse da nova gestão, haviam se reunido com a equipe de transição, que teria recomendado a realização do carnaval após os primeiros 100 dias de governo.

No encontro, segundo Scott, o vice-prefeito Rodrigo Buzato afirmou que irá reestruturar o carnaval de Canoas, levando-o de volta ao Parque Eduardo Gomes. Os representantes afirmam que buscarão alternativas para realizar o carnaval, mesmo sem o apoio da administração municipal.

“Isso nos deu uma imensa esperança”, lamentou o representante das escolas de samba de Canoas.

Em declaração enviada à CNN, Pinheiro Neto alega que, como forma de apoiar as escolas de samba, a prefeitura vai disponibilizar o Parque Eduardo Gomes ou qualquer outro espaço que eles entendam ser adequado para a realização dos desfiles. O secretário de Cultura e Turismo também enfatiza que não foi imposta qualquer censura ou condição para a liberação do espaço público.

“Censura” e polêmica

De acordo com o representante da AESC, o secretário solicitou que as escolas de samba evitassem em seus enredos temáticas como orixás, questões LGBTQIA+ e temas que pudessem ser considerados ofensivos às religiões, justificando que o prefeito era evangélico. Isso teria gerado revolta do meio carnavalesco, já que muitas escolas abordam essas temáticas em seus desfile.

“O secretário Pinheiro Neto demorou a se reunir com a AESC e, quando o fez, iniciou uma conversa política, mencionando um incidente em Porto Alegre envolvendo uma figura de Jesus Cristo em um bloco de carnaval”, completou sobre o encontro.

O episódio mencionado na reunião faz referência ao “Bloco da Laje” em Porto Alegre. No fim de janeiro, em uma apresentação carnavalesca, “Jesus Cristo” foi retratado com poucos trajes e causou grande polêmica nas redes sociais.

Outro lado

A Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Canoas (RS) enviou uma declaração do secretário Pinheiro Neto comentando as acusações. No vídeo, ele afirma que o carnaval em Canoas não receberá recursos do município devido a restrições orçamentárias e à prioridade do governo na recuperação e reconstrução da cidade, bem como em pautas de saúde.

Pinheiro Neto nega que a prefeitura tenha imposto qualquer censura ou condição para a liberação de espaço público. Sobre o episódio citado, envolvendo questões religiosas, o secretário diz que existe a “necessidade de respeito a todas as religiões” e enfatiza que projetos culturais que demonstrem desprezo ou ódio a qualquer religião não podem contar com apoio e dinheiro público.

Por fim, o secretário rebate a polêmica como um “factoide político” com o objetivo de criar uma batalha política na cidade e defende que a cultura é uma pauta social que deve defender os direitos dos trabalhadores do setor, sem ataques ou desrespeito a quaisquer pessoas.

Em uma nota, Pinheiro Neto negou ter imposto condições, ressaltando que nunca houve censura, apenas um pedido de respeito às religiões. Veja a nota na íntegra.

Nota – Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Canoas (RS)

O secretário de Cultura e Turismo de Canoas, Pinheiro Neto, informa que não procede a informação de que teria estabelecido condições relacionadas a temas de apresentações para realizar a cedência do Parque Eduardo Gomes ou do local que os organizadores da festa solicitarem. O secretário explica que jamais houve qualquer tipo de censura ou condições estabelecidas em sua manifestação, apenas um pedido de atenção e respeito às religiões em geral. Cabe pontuar que, até o momento, os organizadores do Carnaval não formalizaram projeto solicitando cedência de espaços públicos para alguma data.

Embora não seja possível destinar dinheiro público ao Carnaval em 2025, devido às necessidades urgentes de investimentos na área da Saúde, a Administração Municipal se colocou à disposição para apoiar a realização das festividades com a cedência do local. O prefeito Airton Souza ressalta ainda que a atual gestão da Prefeitura é comprometida em governar para todos os canoenses e preza pela liberdade, o que inclui a livre manifestação artística, cultural e religiosa no Carnaval.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Escolas de samba alegam “censura temática” de prefeitura em enredos no RS no site CNN Brasil.

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