Um ano após tiro, ex-Esquenta Nathalia Santos lembra: “Sentia muita dor”

A jornalista Nathalia Santos, de 31 anos, foi baleada no quadril em 2024 durante uma tentativa de assalto no Rio de Janeiro, ocorrida no Carnaval. Um ano após o acontecimento, algumas dores se foram, mas outras ainda permanecem.

Mãe de dois filhos, Amora, de 1 ano, e Davi, de 4 anos, palestrante e criadora de conteúdo para as redes sociais, ela relembra os momentos de grande susto que precisou enfrentar, mas que conseguiu deixar para trás.

“Eu só desejo que outras pessoas não passem pela mesma coisa que eu passei. E tenho dois filhos, então, obviamente que foi um ano complexo, mas também sou muito grata de ter tido a oportunidade de continuar escrevendo a minha história e de ter o privilégio de ver os meus filhos crescerem. Foi um ano que eu aproveitei muito cada momento. Mesmo com tanta dor, com tantas incertezas, agradeci desde sempre por ter tido a oportunidade de ficar viva, né? E continuar escrevendo e reescrevendo a minha história”, comentou em entrevista à CNN.

Apesar de ter vivido um período de muitas dores – físicas e emocionais – e tantas outras questões complexas, Nathalia contou com uma rede de apoio essencial em sua recuperação, oferecendo suporte, carinho e força para que ela pudesse seguir em frente e ressignificar sua trajetória.

“O meu processo de recuperação física passou por duas etapas. A primeira foi um grande susto, tanto físico quanto psicológico, acompanhado de muita dor. Eu não conseguia dormir direito à noite, chegava a pedir para tirarem minha perna de tanta dor que sentia. Mas tive ao meu lado minha família – meu esposo, meus filhos, meus pais, meus irmãos, minha cunhada, meu cunhado, meus tios – todos se uniram ainda mais”, falou. “Amigos próximos, uma rede de apoio gigantesca, pessoas que eu não via há muito tempo, amigos virtuais que chegaram, outros que mandavam mensagens, colegas de trabalho que me ajudaram de todas as formas, mandando comida para minha casa, mensagens, vídeos, ajudando a comprar remédios.”

“Enfim, recebi e sigo recebendo ajuda de todas as formas. Isso é muito bom. Me sinto privilegiada por ter perto de mim pessoas tão especiais, que fizeram questão de me fazer sentir especial ao longo desse ano tão complexo”, disse.

Relembre o caso

Em fevereiro de 2024, durante os desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, dois disparos atingiram Nathalia em uma tentativa de assalto. Conforme explicou em suas redes sociais, ela estava acompanhada do marido em um táxi quando foi abordada.

Uma das balas atingiu o quadril da jornalista, que precisou passar por uma cirurgia dias depois. Na época, a Polícia Militar informou que foi acionada para atender a ocorrência. Segundo a corporação, os criminosos atiraram após o motorista tentar frear o carro ao perceber a abordagem.

Doze meses após o ocorrido, o que mais a surpreendeu durante o seu processo de recuperação, foi a sua própria resiliência. “A minha capacidade de ter esperança todos os dias, porque as noites eram sempre muito piores. Demorei até encontrar um remédio que me ajudasse a dormir. À noite, sentia muita dor, chorava, mas quando amanhecia, eu acreditava que aquele dia seria diferente – e, aos poucos, foi sendo. As coisas começaram a acontecer. Obviamente, aprendi a conviver com a dor, a me reinventar, a viver em certo desequilíbrio, algo novo para mim, já que sempre fui uma pessoa equilibrada, tanto física quanto psicologicamente”, comentou.

Em suas redes sociais, ela compartilha com seus seguidores suas dores e traumas vividos até o momento, além dos desafios diários de uma mulher que, além de todas as dificuldades lidadas nesse último ano, também convive com a deficiência visual desde o nascimento.

“Já até gravei alguns vídeos falando sobre isso, sobre como é viver assim, porque tem sido um desafio. Mas lidar com isso um pouquinho a cada dia fez com que o peso fosse se tornando menos insuportável – não que tenha sido fácil, mas fui me acostumando com essa nova realidade. Acho que o que me fortaleceu foi essa capacidade de me refazer e, principalmente, ter as pessoas por perto. Meu esposo, que todos os dias secava minhas lágrimas e me dizia que passaríamos por isso juntos. O abraço dos meus filhos, os ‘bom dia, mamãe, te amo, vai dar certo’. Meus irmãos, minha mãe, meu pai, todos certos de que aquilo ia passar. Tudo isso alimentou minha esperança e minha força para seguir em frente e acreditar que as coisas realmente aconteceriam”, completou.

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Autoestima

Ao longo de sua recuperação, a autoestima também se tornou um ponto central no processo de redescoberta. Lidar com a dor, as limitações e as mudanças físicas exigiu um olhar mais cuidadoso sobre si mesma e uma reconstrução da confiança em sua própria imagem. Nesse percurso, a terapia teve um papel fundamental para Nathalia.

“Depois que o pico da dor passou, consegui me reconectar com a minha essência. Meu brilho nos olhos foi voltando aos poucos e, obviamente, a terapia foi fundamental nesse processo. Foi essencial para entender tudo o que estava acontecendo, para me reconectar comigo mesma, com aquilo em que acreditava e vivia, não só o que pregava. Fazer terapia foi indispensável para me reencontrar, me reconhecer e me conhecer novamente, agora em um corpo novo, ocupando um outro lugar, um outro espaço. Os questionamentos que surgiam toda semana com a minha terapeuta me fizeram refletir sobre muitas coisas e momentos que estava vivendo. Ter esse apoio foi simplesmente fundamental”, explica.

Redescobrindo o respeito pelo próprio tempo e vontades

Após a violência, Nathalia desenvolveu estresse pós-traumático, o que incluiu dificuldades para sair à noite. Isso se deve, em parte, ao fato de que o incidente aconteceu de madrugada, junto com a repercussão da notícia nesse mesmo horário, além de a noite ser o período em que ela mais sente dor.

“Sair e ter que voltar para casa, seja para ir ao shopping ou para uma festa, é complexo, mas ao mesmo tempo estou fazendo isso aos pouquinhos. Obviamente, não faço nada que eu não queira e também não me exponho desnecessariamente. Então, quando sinto que não vai dar certo, no sentido de que não vou me sentir bem, eu simplesmente não vou”, contou. “Não me exponho. Acho que preciso respeitar o meu tempo de viver cada coisa, e uma das lições que esse processo tem me ensinado é que preciso me ouvir mais.”

“Preciso fazer mais as minhas coisas e viver conforme as minhas vontades, mais do que qualquer convenção social. Estou vivendo o presente como um presente e me respeitando mais, porque, às vezes, com a correria do dia a dia, acabamos fazendo as coisas no automático, nos anulando por causa dos outros. O que tenho feito agora é não me anular mais por causa de ninguém e de nada. Estou vivendo aos poucos, conforme eu acho que tenho que viver, me respeitando muito mais e aproveitando o meu tempo para fazer as coisas”, afirma.

De olho no futuro, a comunicadora, que já atuou como comentarista no programa Esquenta, apresentado por Regina Casé na TV Globo, espera voltar às telas quando surgir a oportunidade certa.

“Pretendo estar à frente das câmeras ou do microfone de alguma forma esse ano, mas tudo ainda em seus estágios iniciais, muito embrionário. Estamos desenhando coisas, mas com um olhar [cauteloso], sabe? Sem grandes expectativas, mas sem deixar de sonhar”, conclui.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Um ano após tiro, ex-Esquenta Nathalia Santos lembra: “Sentia muita dor” no site CNN Brasil.

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