Brasileiros escapam de rede de tráfico humano em Mianmar após três meses de cativeiro

Dois brasileiros, Luckas Viana, de 31 anos, e Phelipe de Moura Ferreira, de 26, conseguiram escapar de um cativeiro em Mianmar no último domingo (09), após serem vítimas de tráfico humano. Eles foram aliciados com promessas de trabalho e mantidos reféns por mais de três meses por uma organização criminosa que opera esquemas de golpes online.

Os jovens desembarcaram no país sul-asiático há cerca de três meses, atraídos por ofertas de emprego fraudulentas. Ao chegarem, foram capturados por uma máfia especializada em crimes cibernéticos e levados para o Triângulo de Ouro, região que faz fronteira com a Tailândia e o Laos. No local, tiveram seus passaportes confiscados e foram obrigados a atuar em uma central de estelionatos virtuais, junto a reféns de mais de 50 nacionalidades.

Durante jornadas de 15 a 20 horas diárias, os sequestrados eram forçados a aplicar golpes, que iam desde fraudes em investimentos com criptomoedas até crimes em aplicativos de relacionamento. Caso não atingissem as metas estipuladas, sofriam punições severas. “Vamos dar um exemplo: US$ 100 mil por semana. Se você não bater a meta, você vai sofrer punições. Quais são elas? Tortura e [extorsão] financeira”, explicou Cintia Meirelles, diretora da ONG ‘The Exodos Road’ no Brasil.

As condições no cativeiro eram extremas. Os reféns enfrentavam um regime de multas impagáveis, que eram aplicadas por qualquer razão, como atrasos para retornar do banheiro. “Sempre tem multa. No tráfico de pessoas, têm que entender que a multa sempre vai ser impagável. E esse é o mecanismo, como eles aliciam e como eles não liberam as pessoas”, reforçou Meirelles.

Fuga

A fuga só foi possível com a ajuda da ONG ‘The Exodos Road’, que auxilia vítimas de tráfico humano. Com o apoio da organização, Luckas e Phelipe conseguiram escapar ao lado de outros imigrantes. Entretanto, foram detidos por agentes do Exército Democrático Karen Budista (DKBA), uma das facções armadas da região. Após negociações, os brasileiros foram libertados e incluídos em um grupo que será transferido para a Tailândia.

Segundo o Itamaraty, o governo brasileiro tem mantido diálogo com autoridades locais desde outubro de 2024 para tentar resgatar os nacionais mantidos reféns no país. “Ao menos outros oito brasileiros seguem capturados, mas esse número pode ser maior”, afirmou Cintia.

Atualmente, Luckas e Phelipe estão abatidos e machucados, mas fora de perigo. “Todos os aspectos da dignidade humana deles foram violados”, lamentou Meirelles. Eles passarão por um processo de repatriação em Bangkok e devem retornar ao Brasil nos próximos 15 dias.

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