Mesmo com ameaças de Trump, Brasil reitera desejo de utilizar moedas locais em transações dos Brics

Trump já disse que irá sobretaxar países do grupo caso deixem de usar o dólar como moeda padrão. Lula e outros líderes entendem que países estão reféns da política monetária dos EUA. O governo brasileiro divulgou nesta quinta-feira (13) um documento no qual reiterou que, durante a presidência do Brics, defenderá a discussão sobre o uso de moedas locais em transações comerciais entre os países do bloco.
Este é um tema que vem sendo defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outros líderes do bloco e já provocou reações do recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que já ameaçou sobretaxar os produtos de países do Brics caso deixem de usar o dólar em transações comerciais entre si.
Desde o acordo de Bretton Woods (1944), o dólar é a moeda padrão em negociações internacionais. Líderes do Brics têm argumentado, porém, que isso, na prática, mantém os países reféns da política monetária dos Estados Unidos.
“A presidência do Brasil dará continuidade aos esforços de cooperação para desenvolver instrumentos de pagamento locais que facilitem o comércio e o investimento, aproveitando sistemas de pagamento mais acessíveis, transparentes, seguros e inclusivos entre os membros do Brics”, diz trecho do documento.
“Além disso, medidas de facilitação de comércio, entre elas a cooperação regulatória, poderão contribuir para o aumento do intercâmbio comercial e de investimentos”, acrescenta.
Prioridades do Brasil no Brics
Ao assumir a presidência do Brics, em janeiro deste ano, o governo brasileiro divulgou cinco eixos centrais de discussão:
facilitação do comércio e investimentos entre os países do grupo, por meio do desenvolvimento de novos meios de pagamento;
promoção da governança inclusiva e responsável da Inteligência Artificial;
aprimoramento das estruturas de financiamento para enfrentar mudanças climáticas;
estímulo aos projetos de cooperação entre países do Sul Global, com foco em saúde pública;
fortalecimento institucional do bloco.
No documento divulgado nesta quinta, o país detalhou as prioridades à frente do Brics.
No caso da inteligência artificial, por exemplo, o documento afirma que a tecnologia representa uma “revolução no conhecimento”, e seus benefícios “devem ser compartilhados por toda a humanidade”.
Diante disso, o governo afirma que o mundo “exige” a adoção de medidas em nível internacional, gerando uma governança “justa e equitativa”.
“O Brics pode contribuir para a construção de uma governança internacional da inteligência artificial, com foco na promoção do desenvolvimento sustentável e inclusivo, na defesa do acesso não discriminatório à transferência de tecnologia, respeitando os direitos humanos e o direito internacional, protegendo dados pessoais e garantindo a integridade das informações para o uso ético, seguro, confiável e responsável dessa tecnologia”, diz o documento.
Nesta semana, ao discursar em uma cúpula em Paris sobre inteligência artificial, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que deixar o desenvolvimento da tecnologia “nas mãos de poucos” pode gerar “sérias consequências” para as democracias ao redor do mundo e, por isso, defendeu que haja a discussão de regras sobre a tecnologia em nível internacional.
COP 30
O documento divulgado nesta quinta-feira também trata da área ambiental e cita o fato de que, em novembro deste ano, o Brasil sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém (PA).
Conforme a presidência brasileira do Brics, a cúpula do bloco, antes da COP 30, vai servir para que os países do grupo conduzam as discussões ambientais em nível internacional.
“Uma nova liderança climática, baseada na solidariedade global, pode orientar a humanidade a uma resposta eficaz e equitativa à mudança do clima. Juntos, os países do Brics têm potencial para conduzir uma mobilização renovada em favor de resultados ambiciosos para a COP 30”, diz o documento.
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