Dia da Mulher na Ciência: brasileira inspira novas gerações; conheça

A farmacêutica Suellen Rodrigues, 41, se considera uma pessoa apaixonada pela ciência, pela farmácia e pelas pessoas. Para ela, saúde não é apenas a ausência da doença, mas ter uma vida plena, e a forma como a sociedade se organiza para isso é peça essencial neste jogo. Com uma carreira dedicada à equidade em saúde e políticas públicas, ela se tornou uma das 100 pessoas afrodescendentes mais influentes segundo a Most Influential People of African Descent (MIPAD100), da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Quando conseguimos nos posicionar e usar tecnologia dentro da área de ciência, nós deixamos de ser apenas uma gota no oceano”, afirma Suellen, em entrevista à CNN. No Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado nesta terça-feira (11), a farmacêutica declara que a curiosidade e a paixão são os motores para que, cada vez mais, mulheres consigam se desenvolver na área da ciência e da saúde.

Atualmente, Suellen é diretora estratégica da área de Geração de Dados de Vida Real e Sistemas de Saúde da farmacêutica MSD. Agora, com sua expertise, ela oferece mentoria voltada para mulheres negras e faz parte do Grupo de Trabalho ligado ao Comitê de Disparidades da População Negra, que faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS – Conselhão) no Brasil.

“Rasgavam meu currículo na minha cara”

Parte da motivação para inspirar e ajudar outras mulheres é a sua própria trajetória profissional e os obstáculos que enfrentou ao longo do caminho, muitas vezes, sozinha. “Eu sou a primeira pessoa da minha família a ser formada na área da saúde. Então, eu não tive o networking dentro de casa. Minha família não tinha conexão com essa área”, conta.

Fora do ambiente familiar, também surgiram desafios. Na universidade, ela era a única aluna negra em uma turma com mais de 100 alunos, no primeiro ano do curso. O caminho até conseguir um estágio em sua área também foi tortuoso e marcado por preconceitos em relação à sua pele e aparência.

“As pessoas rasgavam meu currículo na minha cara”, relembra. “Nessa época, eu era obesa. Eu fiz cirurgia bariátrica em 2011, mas até esse momento, eu estava bastante acima do peso. Então, hoje eu entendo que somava à questão da gordofobia com a questão do estereótipo de ser uma pessoa negra. Eu cheguei a escutar, por algumas vezes, que eu não tinha o corpo, o cabelo, o tom de pele e a cor dos olhos que caberia dentro da instituição [em que procurava estágio]”, revela.

Para Suellen, oferecer orientação e apoio a mulheres que passam pelos mesmos desafios que enfrentou no início de sua carreira é uma forma de empoderamento. “Se você não tem um orientador, se você não faz terapia, você fica se enxergando como uma pessoa que, realmente, não vai avançar, ainda mais quando você se vê em um ambiente elitizado, como o da saúde”, afirma.

Dedicação à equidade racial e de gênero

O voluntariado sempre esteve presente na vida de Suellen, desde sua infância, por influência de sua mãe. Atualmente, ela enxerga o trabalho voluntário como uma forma de promover maior equidade racial e de gênero na área da ciência e da saúde e, também, em outras áreas profissionais.

“Eu tenho focado energia nessa contribuição para vida e para carreira. Eu não sou psicóloga, mas em determinados momentos, não tive ninguém com quem me aconselhar, e eu quero compartilhar a minha perspectiva da minha jornada”, conta Suellen.


Suellen foi nomeada uma das pessoas afrodescendentes mais influentes pelo MIPAD em 2023 e figura na lista INvolve EMPOWER Future Leader Role Model List 2024 • MSD/Divulgação

“Eu vejo que esse compartilhamento cria redes que me fazem melhor como indivíduo, melhor para minhas pessoas, melhor para a empresa, porque eu consigo ter esse balanço do ambiente interno e do externo, das necessidades da sociedade. E, para mim, é uma satisfação pessoal gigante quando eu vejo um dos meus mentorados conquistarem seus sonhos”, completa.

“É um lazer ver os olhos das meninas brilhando”

Suellen possui 20 anos de experiência em farmacêutica. Ganhou destaque em áreas regulatórias e estratégicas na indústria nos últimos anos. Possui diversas especializações e é mestre em Políticas Públicas Internacionais pela Queen Mary University of London. Além de ser uma das pessoas afrodescendentes mais influentes pelo MIPAD, também figura na lista INvolve EMPOWER Future Leader Role Model List 2024.

No entanto, um dos pontos altos da sua carreira, segundo suas próprias palavras, é servir de inspiração para as próximas gerações de jovens cientistas — entre elas, sua afilhada de 13 anos. “Eu descobri recentemente que ela tem uma paixão grande por biologia. A forma como ela descreve o que é a biologia para ela é muito incrível, superestimulante e dá um orgulho gigante”, conta.

Mas a jovem não é a única que se inspira em Suellen. Em uma família cuja nova geração é composta, majoritariamente, por meninas, a farmacêutica se enxerga em um papel de estimular a curiosidade pela ciência.

“Eu sou apaixonada por conversar com crianças e jovens, e ser estimulada pela forma como eles vêm o mundo, com que estão experimentando o mundo. E eu vejo um potencial muito grande nas crianças”, afirma. “Ao fazer experiências científicas dentro de casa, muitas vezes com algo simples, e ao explicar como aquilo funciona, é um momento em que eu me aproximo de novas gerações. É um momento de lazer para mim, e não uma obrigação, ver os olhos brilhando, principalmente das meninas”, finaliza.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Dia da Mulher na Ciência: brasileira inspira novas gerações; conheça no site CNN Brasil.

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