Sem pedágio, mas com buraco: motoristas sofrem com insegurança na BR-040

“Cuidado, buraco na pista”: Esse aviso do aplicativo de navegação é o melhor benefício do motorista que hoje tem que trafegar na BR-040. Uma mudança na vida de quem precisa passar pela rodovia que liga o Rio de Janeiro até Brasília.

“Antes eu fazia um percurso de mais de 700 quilômetros e não tinha um buraco na via, guincho 24 horas e banheiros. Agora é um buraco a cada quilômetro.” Esse é o relato de um motorista colhido pela equipe da CNN.

A reportagem percorreu o trecho da rodovia que liga Brasília (DF) até Belo Horizonte (MG) nos dias 28 de dezembro de 2024 e retornou ao Distrito Federal no dia 2 de janeiro de 2025.

A preocupação dos motoristas tem um porquê. A concessionaria Via 040, que operava a BR-040, devolveu a concessão ao governo. Desde 2017, a empresa avisou o governo que deseja devolver a concessão, alegando prejuízos financeiros.

Hoje não há um motorista que não estranhe passar pelas praças de pedágios totalmente vazias, sem ninguém nas cabines. Após o encerramento das operações da Via 040 em agosto do ano passado, os pedágios deixaram de ser cobrados.

O ideal seria a saída de uma empresa e entrada de outro grupo para cuidar da via imediatamente.

Mas pela burocracia do estado, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) está como responsável pela pavimentação nesse intervalo até a chegada do grupo francês Vinci Highways que somente iniciará suas operações e a prestação de serviços em até 30 dias após a assinatura do contrato, prevista para ocorrer até 10 de fevereiro.

Foi durante esse período sem concessão que nossa reportagem percorreu 1400 quilômetros e conversou com motoristas e trabalhadores que vivem na rodovia pensada por Juscelino Kubitschek para se chegar à nova capital no interior do Brasil.

Um frentista, que trabalha em um posto de combustíveis na cidade de João Pinheiro, detalhou como tem sido as conversas sobre a rodovia com os clientes.

“Antes todo mundo reclamava que a duplicação estava demorando, agora até esqueceram (da duplicação) e estão preocupados com os buracos na pista” contou o frentista.

É certo que mesmo com os problemas de caixa, durante a antiga concessão era raro ver buracos na rodovia. Quando acontecia era sinalizado e rapidamente reparado. Mas a gestão da Via 040 não agradava a todos.

No levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), o trecho administrado pela Via 040 nunca foi considerado pela pesquisa como ótimo. Inclusive no levantamento de 2024, o pavimento caiu de classificação de bom para regular.

Depois de multas por falta de comprimento de obras do contrato, a Via 040 deixou de fazer quilômetros de duplicações, viadutos, passarelas, entre outros.

Apesar do Ministério dos Transportes garantir que o DNIT tem cuidado da manutenção do pavimento, não vimos nenhuma obra de tapa buracos nos dois dias que a reportagem passou pela rodovia.

O período de chuva trouxe, além dos buracos, erosões e os acostamentos com mato alto, restos de pneus e árvores derrubadas.

Inclusive flagramos um acidente com um caminhão de carvão próximo à Praça de pedágio de São Gonçalo do Abaeté (MG). Sem uma sinalização adequada como cones, carros com giroflex, operadores com bandeiras, coube aos próprios motoristas avisarem quem vinha no lado contrário com dois avisos de farol alto.

No local, nada de guincho ou ambulância. Sorte do motorista que teve apenas escoriações leves. Voluntários ajudavam a retirar a carga que ficou bloqueando uma das pistas. Por fim, apenas uma viatura da Polícia Rodoviária Federal chegou para acompanhar a ocorrência.

Nova empresa

Com a saída da Via 040, o processo de concessão da BR 0-40 foi modificado. O Ministério dos Transportes dividiu o trecho da BR-040. O grupo francês Vinci Highways venceu o trecho chamado Rota dos Cristais que vai de Cristalina (GO) até Belo Horizonte (MG).

Foi anexado ao contrato, o Programa de Exploração da Rodovia (PER), que estabelece todos os parâmetros de desempenho que devem ser atingidos no primeiro ano do contrato, cabendo à concessionária a responsabilidade de se planejar para realizar os serviços, inclusive os emergenciais, que serão realizados durante os primeiros meses de contrato.

Segundo o ministério, toda a estrutura da Via 040 desde as praças de pedágio até os postos de assistência ao usuário será aproveitada pela Vinci Highways.

Outro lado

O Ministério dos Transportes foi questionado sobre porque a rodovia ficou sem concessão, sobre as condições do pavimento e a quantidade de buracos nas pistas e o abandono das edificações que eram da Via 040. O órgão respondeu em nota:

A concessionária Via040 deixou de atuar no trecho entre Juiz de Fora e Belo Horizonte da BR-040 em 6 de agosto de 2024. As obrigações essenciais a serem cumpridas durante o período de relicitação foram objeto de fiscalização pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Desde o encerramento do contrato de concessão da Via040, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) mantém contratos de conservação ativos no trecho, que incluem serviços de tapa-buracos, recuperação do pavimento, roçada, limpeza e manutenção de dispositivos de drenagem. As ocorrências de quedas de vegetação em períodos de chuvas são excepcionais e a retirada é realizada pelas equipes contratadas. No que tange a problemas no pavimento, as chuvas tendem a acelerar a degradação do revestimento. O DNIT tem atuado fortemente para corrigir os pontos localizados.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Sem pedágio, mas com buraco: motoristas sofrem com insegurança na BR-040 no site CNN Brasil.

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