Hospital usa furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas; Veja fotos

Médicos do Hospital Nossa Senhora do Pari, localizado no Centro de São Paulo, estão utilizando furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas, segundo vídeos obtidos pela TV Globo e relatos de funcionários da unidade. As informações são do g1.

As imagens mostram os equipamentos sendo usados com marcas de sangue e até fios desencapados, o que representa um risco à segurança dos pacientes. O uso de furadeiras domésticas em procedimentos cirúrgicos é proibido pela Anvisa desde 2008.

Um funcionário do hospital, que preferiu não se identificar, revelou detalhes sobre a situação. “São de cinco a nove furadeiras que têm na casa, são as comuns que você compra para perfurar a parede. Algumas têm até raspada a marca e tem umas que são passadas isolante no cabo. Outras eles mesmos [médicos] reformaram”, afirmou.

Ainda segundo esse funcionário, as furadeiras são utilizadas em todos os procedimentos que exigem perfuração óssea. “Só vejo essas amarelas de parede mesmo. E como que as parafusadeiras chegam até lá dá para saber. Tem uma pessoa responsável por comprar as coisas do hospital e ela compra essas porque diz que é mais barato e também para manutenção é mais barato”, completou.

Paciente perdeu mobilidade após cirurgia

O problema não se limita ao uso dos equipamentos. Eduardo Santtos, que passou por uma cirurgia no Hospital do Pari em 2020 após um acidente de moto, relatou que perdeu a mobilidade do braço direito e decidiu processar a unidade.

“Eu sentia tudo, eles me cortando, me batendo. Foi um horror. Eu não consigo trabalhar porque meu braço não acompanha o movimento do outro. Ele não abre”, declarou.

O advogado Helton Fernandes, especialista em direito da saúde, reforçou a gravidade da situação. “Toda conduta profissional em desacordo com o que prescreve a ciência e medicina deve ser encarada como erro. Você não pode tolerar que, pelo fato de ser no sistema público, esse profissional possa empregar meios que não são adequados naquele caso”, afirmou.

Falta de higiene nos procedimentos

Outro ponto preocupante é o controle sanitário do hospital. Além da higienização e esterilização inadequadas dos equipamentos, um flagrante feito dentro da unidade mostrou que o produto utilizado para limpeza das furadeiras é um detergente desengordurante.

No site do próprio fabricante, a indicação do produto é clara: “ideal para locais como pousadas, hotéis de médio porte, cozinhas e restaurantes”.

Posicionamento das autoridades

A TV Globo procurou os órgãos responsáveis pela gestão e fiscalização do Hospital do Pari, mas ninguém aceitou conceder entrevista.

Por meio de nota, a diretoria do hospital afirmou que os perfuradores utilizados são aprovados pela Anvisa e que o hospital passa por fiscalizações periódicas.

A Secretaria Estadual da Saúde declarou que a unidade tem autonomia administrativa e que sua gestão é responsabilidade do município. Além disso, informou que a Vigilância Sanitária realiza inspeções no local.

Já o Conselho Regional de Medicina disse que acionou seu departamento de fiscalização para investigar o caso.

A Anvisa esclareceu que atua apenas em casos que ultrapassam a competência do município ou do estado, indicando que a responsabilidade é da prefeitura local.

Por fim, a Prefeitura de São Paulo afirmou que não há denúncias contra o hospital e que, caso seja comprovada alguma irregularidade, o contrato pode ser rescindido. Além disso, destacou que a responsabilidade pelo alvará sanitário é do estado.

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