Palhaços que levam alegria a pacientes de hospital há 25 anos são homenageados em documentário: ‘Um sorriso de cada vez’


Projeto surgiu em 2000, com a união de três moradores de Fernandópolis (SP) que compartilhavam uma paixão: fazer os outros rirem. Por meio do riso, projeto leva alegria aos pacientes da Santa Casa de Fernandópolis (SP) há 25 anos
Arquivo pessoal
O sorriso, o riso e, claro, a alegria são alguns dos maiores presentes que alguém pode receber em momentos de vulnerabilidade. Esse é o objetivo do projeto Palhaços de plantão, que, ao longo dos últimos 25 anos, tem levado alegria aos pacientes internados na Santa Casa de Fernandópolis (SP).
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Com um trabalho que mistura arte, cuidado e humanização, o grupo de palhaços, que faz a diferença nas vidas de pacientes, familiares e até profissionais de saúde, foi homenageado em um documentário.
O projeto surgiu em 2000, com a união de três pessoas que compartilhavam uma paixão: fazer os outros rirem. Em entrevista ao g1, Rafael Guerra de Aquino, de 45 anos, ator, professor universitário e palhaço profissional, conta que foi o idealizador da iniciativa e um dos primeiros a vestir o nariz vermelho.
“Eu já trabalhava com teatro e, em 2000, decidi me envolver com a arte do palhaço. Foi quando entrei para o curso de enfermagem e vi como poderia unir essas duas paixões no hospital”, conta.
Junto a ele estavam a palhaça Trimilic e o palhaço Macarrãozinho – dois nomes que marcaram os primeiros passos do grupo, que, inicialmente, fazia visitas na cidade de Fernandópolis, mas logo se expandiu para outros municípios, como Votuporanga (SP) e São José do Rio Preto (SP).
Rafael Guerra de Aquino no primeiro ano do projeto, em 2000
Arquivo pessoal
Ao longo dos anos, o número de integrantes aumentou, e o projeto se consolidou como uma referência no trabalho humanitário hospitalar. O grupo, formado por profissionais de diferentes áreas – como direito, engenharia, psicologia e enfermagem –, encontrou no hospital um espaço para transformar o ambiente pesado e muitas vezes dolorido em algo leve e acolhedor (assista ao vídeo abaixo).
Para o engenheiro agrônomo José Renato Alves Correa, de 56 anos, que entrou para o projeto em 2012, o aspecto humanitário foi o que mais o atraiu.
“O que me motivou a entrar foi poder levar alegria às pessoas que estão em um momento tão delicado. A presença do palhaço tem o poder de transformar o ambiente, facilitar a recuperação e até melhorar o relacionamento com os profissionais de saúde”, explica.
🤹🏻 Principais desafios
Ao longo desses 25 anos, o projeto não apenas celebrou inúmeras vitórias, mas também enfrentou desafios, tanto no aspecto emocional quanto no logístico. Para Rafael, o maior obstáculo é manter a formação profissional dos integrantes do grupo.
Embora a arte do palhaço não seja a profissão principal de todos os envolvidos, o nível de preparação exigido para atuar em um ambiente hospitalar demanda treinamento constante, não só para o desenvolvimento das habilidades artísticas, mas também para a compreensão das necessidades emocionais e físicas dos pacientes.
“A formação que oferecemos é profissional, tanto no que diz respeito à arte do palhaço quanto à sensibilidade necessária para o cuidado hospitalar”, comenta.
José Renato, que já tem mais de uma década de experiência no grupo, também aponta a constante necessidade de atualização.
“O mais importante é a reciclagem. Precisamos sempre nos encontrar para discutir o nosso propósito, avaliar a relevância do trabalho e fazer uma autocrítica para melhorar continuamente”, destaca.
Além disso, o ambiente hospitalar exige uma grande capacidade de adaptação, pois cada visita é única e demanda uma percepção sobre o momento em que o paciente se encontra, se está receptivo ou não ao trabalho do palhaço.
Projeto leva alegria aos pacientes da Santa Casa de Fernandópolis há 25 anos
Em meados de 2020, o grupo enfrentou a pandemia, um dos maiores desafios. As visitas presenciais foram interrompidas durante o período de isolamento social, mas os palhaços não se afastaram totalmente dos hospitais.
“Foi um momento muito difícil, porque não podíamos mais fazer nossas intervenções diretamente com os pacientes. Mas conseguimos criar alternativas, como vídeos e lives, para continuar levando nossa alegria, mesmo que à distância”, relembra Rafael.
Quando as restrições começaram a diminuir, o grupo retornou ao hospital, mas com a necessidade de usar máscara, o que dificultava a expressão facial tão característica dos palhaços.
Grupo precisou se reinventar na pandemia para lidar com o vírus e ainda levar alegria aos pacientes
Arquivo pessoal
✨ Histórias inesquecíveis
A chegada de novos integrantes, como a Dra. Tatinha ou Tamiris Dombrovski, só amplia a riqueza do projeto. Tamiris, que sempre teve uma paixão pelo circo, conheceu o trabalho por meio de outros membros do grupo.
“Eu fiquei encantada com a ideia de transformar a seriedade do hospital em algo mais descontraído e leve. E, com o tempo, passei a perceber o quanto isso fazia bem para os pacientes”, compartilha.
Tamiris Dombrovski começou a participar do projeto há poucos meses
Arquivo pessoal
Para ela, um dos momentos mais especiais foi durante a visita de Natal, quando um paciente idoso se emocionou ao cantar músicas e relembrou seus tempos de juventude.
“Teve um senhor, idoso, que quis cantar várias músicas com a gente, todo animado. A esposa, emocionada, disse que fazia muito tempo que não o via tão feliz. Outro paciente me viu dançando e veio me contar que agora não consegue andar direito, mas que, quando era jovem, era o ‘rei dos bailes’. São muitas histórias. Isso faz bem não só para eles, mas também para nós”, reforça.
José Renato também guarda histórias que marcam sua trajetória no projeto. Uma delas o emocionou de uma forma especial. Foi quando um garoto de 4 anos guardou um de seus desenhos como símbolo de força e alegria.
“Naquele dia, nós fizemos nossa intervenção e fomos embora. Passaram-se uns três anos quando encontrei com o pai de um dos pacientes, que me chamou para mostrar um pequeno papel redondo que eu havia deixado com seu filho, simbolizando um nariz vermelho igual ao que eu usava naquele dia. O pai me disse que o filho pediu para colocar no capacete da moto para que sempre pudesse lembrar do encontro nosso”, conta.
🎥 Documentário
“O nariz do palhaço é a menor máscara do mundo, a que menos esconde e a que mais revela”. Esta é uma das primeiras falas do documentário “O Riso no ambiente HOSPITALAR”, que narra a trajetória do grupo e celebra os 25 anos de atuação.
O filme mostra não só os bastidores do trabalho, mas também a importância de cada gesto e sorriso que os palhaços levam aos hospitais. “Sentimos a necessidade de consolidar nossa história e registrar a nossa essência em vídeo”, comenta Rafael.
Trecho do documentário ‘O Riso no ambiente HOSPITALAR’
Reprodução/YouTube
O documentário está disponível no YouTube (acesse o link) e apresenta uma visão do grupo por seus integrantes, com imagens e relatos emocionantes. Além de comemorar os 25 anos de dedicação, o projeto continua firme em sua missão de levar alegria a quem mais precisa. Para o futuro, os planos incluem abrir novas turmas de formação e expandir o projeto para outras cidades.
“O mais importante é que as pessoas entendam o poder que a arte tem de transformar realidades. Estamos aqui para fazer a diferença na vida das pessoas, um sorriso de cada vez”, conclui Rafael Guerra.
Para ajudar o projeto, é só acessar o perfil nas redes sociais.
*Colaborou sob supervisão de Henrique Souza
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