Medula óssea viaja mais de 9 mil quilômetros do ES até os EUA para salvar vida de criança


Doador de Vitória, no Espírito Santo, teve o material coletado no dia 20 de janeiro e, no mesmo dia, a medula seguiu para os Estados Unidos. Cem doações de brasileiros foram feitas para pessoas de outros países, segundo o Redome. Capixaba doa medula para paciente dos Estados Unidos
Uma medula óssea doada por um paciente de Vitória viajou mais de nove mil quilômetros até chegar ao seu destino, nos Estados Unidos, e cumprir sua missão: salvar a vida de um jovem americano. A doação foi feita por Raphael Athayde de Souza, de 37 anos, na última segunda-feira (20) e, no mesmo dia, o material já seguiu viagem.
📲 Clique aqui para seguir o canal do g1 ES no WhatsApp
Raphael mora na capital do Espírito Santo, é autônomo e doador de medula óssea desde 2012. Ele recebeu a notícia de que era compatível com um paciente dos EUA no dia 15 de janeiro. Já no dia 20, o capixaba foi internado em um hospital de Vitória, passou por exames, realizou o procedimento e recebeu alta já no dia seguinte.
“Eu doei sangue a primeira vez em 2012 por conta de um amigo que teve leucemia. Ele movimentou o bairro onde eu moro. Todos os amigos foram tentar dar uma medula compatível para salvar ele. Infelizmente, ele faleceu. O nome dele é Ronnie e ele é o pioneiro para eu estar aqui hoje”, disse Raphael.
Caminho da medula
Segundo Marcelo Aduan, coordenador do Serviço de Onco-Hematologia e Transplante de Células Tronco Hematopoéticas do Hospital Santa Rita, onde o procedimento foi realizado, a medula segue de avião normal, mas não passa pelo raio-x dos aeroportos.
“Um courier, responsável pelo serviço de entrega expressa, vem dos EUA para receber a medula. Toda a documentação é conferida. A bolsa contendo a medula (que é igual à bolsa de sangue quando fazemos transfusão) é colocada dentro de um isopor e segue viagem como se fosse uma ‘bagagem de mão'”, relatou.
O coordenador comentou ainda que assim que a medula chega ao destino, ela é congelada para uso futuro e faz parte de um procedimento padrão para garantir quem vai receber a célula-tronco.
Raphael Athayde de Souza, de 37 anos, é do Espírito Santo e doou medula óssea para paciente dos Estados Unidos
Reprodução/TV Gazeta
LEIA TAMBÉM:
‘Não dói’, diz capixaba que viajou 1,8 mil km para doar medula óssea; veja quem pode e como ser voluntário
Corrida por transplante de fígado no Rio tem atraso por causa de tiroteio e via expressa fechada para órgão passar
‘Mesmo morto, meu pai trouxe vida’, diz filha que autorizou doação de órgão que fechou a Linha Vermelha, no RJ
Por mais que seja curioso, a doação de medulas para pacientes de todo o mundo é algo comum. Isso porque o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) faz parte de uma rede internacional que permite a busca de doadores em outros países, caso não haja compatibilidade no Brasil.
“Cerca de 30 a 35% dos transplantes feitos no Brasil com doadores não aparentados são realizados com doadores estrangeiros”, ressaltou a hematologista Danielli Oliveira.
Segundo o Redome, em 2024 foram feitas 100 doações de brasileiros para pessoas de outros países, sendo três deles capixabas.
Além dos Estados Unidos, França, Argentina e Itália são os países que o Brasil mais envia unidades de células para transplante.
Para quem doa, fica o sentimento de amor ao próximo. O autônomo também faz parte, desde 2021, de um grupo de torcedores do Flamengo que é voluntário na doação, o Flamedula.
“Você se sente um super-herói, e saber ainda que é mundial, que a pessoa procurou no mundo inteiro e encontrou em mim a salvação, a vida… Você não salva só uma pessoa, você salva a família toda. Por conta de todos os especialistas que eu conversei, parece que é uma criança, se Deus quiser vai dar tudo certo, vai pegar, salvar a vida dela e a gente vai conseguir fazer esse reencontro”, comentou o autônomo.
Raphael Athayde de Souza, de 37 anos é do Espírito Santo e doou medula óssea para paciente dos Estados Unidos
Reprodução/TV Gazeta
Segundo a orientação na Política de Proteção ao Doador, o doador tem a identidade preservada.
“O sigilo é fundamental no processo de doação de medula para garantir que o paciente não seja influenciado durante a decisão de doar ou não. Por exemplo, se um paciente de 70 anos precisar de um transplante, o doador pode se recusar a doar alegando que prefere ajudar um paciente mais jovem. Por isso, é essencial manter a imparcialidade na decisão. É provável que, ao se registrar como doador, Raphael tenha assinado um termo de sigilo que estabelece que ele só poderá conhecer a identidade do receptor entre 18 e 24 meses após o transplante. Esse procedimento é o padrão adotado pelo Redome e por todos os bancos de doadores de medula óssea do mundo, visando garantir a privacidade e a igualdade de tratamento para todos os envolvidos no processo”, explicou.
Doações em números
Dados do Redome apontam que, no Espírito Santo, há 182.320 cadastros de doadores voluntários e pouco mais de 500 receptores. Em 2024, já foram realizados 5.024 novos cadastros no estado.
Além disso, o Brasil teve 282 doações de medula em geral, sendo nove de capixabas.
De acordo com o médico coordenador de Serviços de Transplante de Medula Óssea do Hospital Santa Rica, a compatibilidade da medula acontece a partir do momento em que o receptor e o doador entram no banco de dados do Redome.
“O Redome cruza os dados com o registro de receptor de medula óssea, que são pacientes que estão na fila aguardando por transplante. Então, a partir do momento que você encontra um doador do registro que seja compatível com o registro do receptor, você já começa o processo da doação da medula óssea. Obviamente que você precisa consultar se o doador que está no banco continua disponível. Ele pode ter tirado o consentimento de ser doador, ele pode estar doente, ter saído do Brasil…”, pontuou o coordenador.
Processo de doação de medula óssea no Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
No Espírito Santo, o cadastro de doador voluntário é feito no Centro de hematologia e Hemoterapia do Estado (Hemoes). No estado, há vários pontos espalhados.
O que é necessário para doar?
Ter entre 18 e 35 anos de idade (O doador permanece no cadastro até 60 anos e pode realizar a doação até esta idade).
Um documento de identificação oficial com foto.
Estar em bom estado geral de saúde.
Não ter nenhuma doença impeditiva para cadastro e doação de medula óssea.
Mais informações podem ser acessadas no site do Redome.
Aviso de doação de medula óssea em hospital no Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
VÍDEOS: tudo sobre o Espírito Santo
Veja o plantão de últimas notícias do g1 Espírito Santo
Adicionar aos favoritos o Link permanente.