Hospital no DF não tem remédios para hemorragia pós-parto, denunciam funcionários


Complicação é uma das principais causas de morte materna no Brasil e no mundo. Secretaria de Saúde diz que ‘estoque é reposto frequentemente conforme a necessidade’. Funcionários mostram falta de medicamentos para complicações pós-parto no HRG.
O Hospital Regional do Gama (HRG), no Distrito Federal, não tem remédios para hemorragia pós-parto, denunciam funcionários. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de um quarto das mortes maternas em todo o mundo são causadas pela hemorragia pós-parto (entenda mais abaixo).
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Uma funcionária do hospital, que não quer ser identificada, gravou imagens mostrando que não há no estoque do hospital público os dois medicamentos para combater a complicação (veja vídeo acima):
Methergin
Transamin
“Há uns dois meses eles não têm vindo. O que vem, eles trazem em pequena quantidade e imagina: uma mulher está com hemorragia, você tem que ir na Farmácia Central [fora do hospital] com a prescrição pra pegar a medicação e aplicar. Até eu chegar com a medicação, o quadro dela já piorou bastante”, diz a servidora.
De acordo com funcionários, a direção do HRG comunicou a falta à Secretaria de Saúde. Em nota, a pasta diz que “o estoque é reposto frequentemente conforme a necessidade”, e nega o desabastecimento (veja nota mais abaixo). No entanto, a funcionária que fez a denúncia chama a atenção para a frequência com que ocorrem hemorragias durante os partos.
Recentemente, a gente teve um plantão que tivemos mais de 13 hemorragias no mesmo plantão. […] Se eu quiser ir numa farmácia e comprar, eu consigo ter acesso, R$ 5 uma ampola. Para a secretaria é muito mais barato comprar em larga escala. Por isso é revoltante a situação”, diz a funcionária.
📌 O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) diz que acompanha de perto a falta de medicamentos básicos na rede pública, assim como os processos de compra.
Hemorragia pós-parto
Mulher grávida espera atendimento no Hospital Regional do Gama.
TV Globo/Reprodução
A hemorragia pós-parto (HPP) é uma emergência obstétrica que pode ocorrer depois de um parto vaginal ou de uma cesariana. A complicação pode apresentar uma perda sanguínea acima de 500 ml após o parto vaginal ou acima de 1000 ml após a cesariana, segundo a Secretaria de Saúde do DF.
De acordo com o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina no DF, Eduardo Vaz, a hemorragia pós-parto é uma complicação que, sem tratamento, pode levar a morte.
“A hemorragia pós-parto não bem conduzida pela ausência do medicamento, pode levar a transfusão de sangue, aumento de internação hospitalar, e até casos trágicos que o médico opta em retirar o útero da paciente, porque não para de sangrar. Pode até levar a morte”, diz o médico.
Além do óbito, segundo a Secretaria de Saúde do DF, os casos mais graves de hemorragia pós-parto podem levar a outras complicações como:
síndrome do desconforto respiratório do adulto
insuficiência renal
coagulopatia (sangramentos excessivos e prolongados)
choque hipovolêmico (coração não bombeia sangue suficiente para os órgãos)
perda da fertilidade
necrose pituitária (destruição da hipófise por falta de sangue)
Em relação à falta de medicamentos no HRG, o vice-presidente do CRM/DF afirma que não recebeu denúncias sobre o problema, mas que vai verificar a situação.
O que diz o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
“No momento, podemos afirmar que o MPDFT acompanha de perto a situação dos estoques de medicamentos básicos, como esses que vocês mencionam, especialmente os processos de compras. A população pode denunciar situações de falta de medicação nas unidades de saúde por meio da Ouvidoria do MPDFT.”
O que diz a Secretaria de Saúde do DF
“A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) esclarece que não procede a informação sobre a escassez de medicamentos no Hospital Regional do Gama. Em relação ao Methergin e ao Transamim, ambos estão disponíveis em estoque e são administrados conforme a demanda.
Destacamos que o estoque de medicamentos dos hospitais são repostos frequentemente à medida que são dispensados para os pacientes.
Salientamos que em caso de interrupção do tratamento por falta de medicação, a recomendação é que o paciente procure o seu médico para que este verifique a possibilidade de substituição do medicamento atualmente em falta por outros disponíveis na linha de cuidado do paciente (Protocolos clínicos).”
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