Apagar incêndios com água do mar prejudica as florestas? Ciência explica

Quando os bombeiros que estão combatendo os incêndios florestais devastadores em Los Angeles, nos EUA, descobriram que o principal reservatório de água do icônico Pacific Palisades estava inoperante, tiveram que usar um plano B.

Passaram a utilizar imediatamente o CL-415 Super Scooper, uma aeronave de combate a incêndios emprestada por autoridades canadenses.

Funcionando como uma grande concha (como indica o seu nome), esse bombardeiro anfíbio é capaz de deslizar sobre o oceano e reabastecer seu tanque com 5,7 mil litros de água do mar, sem pousar, e despejá-la sobre as chamas. Embora aparentemente simples, pois o Oceano Pacífico está “ali do lado” como uma reserva infinita de água, a solução tem sido considerada como “última opção” disponível, pelos possíveis impactos ao meio ambiente.

Em um artigo recente, publicado na plataforma The Conversation, o pesquisador Patrick Megonigal, diretor do Centro de Pesquisa Ambiental Smithsonian, falou sobre um projeto que imita inundações em florestas. Chamado de Tempest, o novo experimento “foi criado para entender como e por que florestas costeiras historicamente livres de sal reagem às suas primeiras exposições à água salgada”, explica o ecologista de ecossistemas.

Irrigando uma floresta com água do mar


Tanques de água salgada da Baía de Chesapeake bombeados pelo experimento TEMPEST • Rick Smithsonian Environmental Research Center

Criado originalmente para imitar tempestades intensas de água doce e salgada inundando partes da floresta, o Tempest bombeou água salgada da Baía de Chesapeake, nos EUA, para tanques de 37,8 mil litros. Em seguida, a equipe borrifou a água na superfície da floresta de forma rápida o bastante para saturar o solo por cerca de dez horas de cada vez, como se fosse uma enorme onda de água salgada durante uma tempestade.

Desde as primeiras dez horas de exposição à água salgada em junho de 2022 até completar um ano, a floresta costeira escolhida como “cobaia” do experimento não revelou nenhum efeito significativo. Então, os pesquisadores aumentaram a exposição para 20 horas a partir de junho de 2023, e a floresta permaneceu praticamente intacta, embora os tulipeiros nativos estivessem retirando água do solo mais lentamente.

As coisas só começar a mudar de fato após uma exposição de 30 horas à água salgada em junho de 2024. As folhas dos tulipeiros começaram a ficar marrons em meados de agosto, várias semanas antes do esperado. Com a chegada do outono, em setembro, a copa das árvores estava completamente sem folhas, como se o inverno tivesse chegado. Nenhuma dessas mudanças ocorreu em um terreno próximo, tratado com água doce.

A resiliência inicial da floresta foi em parte devida à baixa concentração de sal na água do estuário e às chuvas que removeram os sais do solo após os experimentos de 2022 e 2023. Já em 2024, além de uma seca ter impedido a remoção dos sais, a longa exposição das árvores a solos salgados pode ter finalmente excedido a sua capacidade de tolerância.

Impactos da água salgada nos solos


A água retirada do solo após um experimento com água salgada tinha cor de chá • Alice Stearns/Smithsonian Environmental Research Center

Com o Tempest em curso, o grupo de pesquisa “ainda está tentando entender todos os fatores que limitam a tolerância da floresta à água salgada e como nossos resultados se aplicam a outros ecossistemas, como os da área de Los Angeles”, diz Megonigal.

Não apenas as folhas das árvores se tornaram marrons bem antes do outono, mas também a água da chuva, normalmente clara, que se infiltra no solo, se tornou marrom após a primeira exposição de dez horas à água salgada em 2022. A situação permaneceu desse jeito nos dois anos seguintes. Segundo os pesquisadores, a cor se deve a substâncias ricas em carbono que são liberadas (lixiviadas) de folhas ou madeira em decomposição.

Testes laboratoriais revelaram que o sal presente no solo estava causando a dispersão e o movimento da argila e outras partículas, com reflexos importantes tanto na química quanto na estrutura do solo. Segundo a equipe, essas mudanças podem continuar por muitos anos, afetando a qualidade e a estabilidade do solo no longo prazo.

A água salgada, apesar de tremendamente útil no combate imediato a incêndios, tem muitas desvantagens que fazem com que os bombeiros continuem preferindo as fontes de água doce, desde que ela esteja disponível, conclui Megonigal.

Mas, independentemente de ser despejada pelos bombeiros, a água do mar está invadindo cada vez mais as florestas costeiras dos EUA e do mundo, empurrada pelo aumento do nível dos oceanos. Resultado da mudança climática generalizada, o derretimento das calotas polares e o aquecimento térmico da água expõem a vegetação a solos salinos com impactos ainda desconhecidos aos ecossistemas.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Apagar incêndios com água do mar prejudica as florestas? Ciência explica no site CNN Brasil.

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