O documentário “Rita Lee: Mania de Você” chegou ao streaming nesta quinta-feira (8). A data marca dois anos desde a morte da rainha do rock brasileiro.
A produção, da plataforma Max, tem direção de Guido Goldberg e conta com o apoio da família cantora, com a participação dos filhos Beto, Antonio e João, além do viúvo Roberto de Carvalho.
Com cerca de 1h20 de duração, o documentário abre com alguns dos últimos áudios gravados por Rita, que começa com ela falando sobre a morte – “A morte não é o castigo, a morte é voltar para a casa, onde você estava antes de nascer”.
O conteúdo íntimo traz proximidade com a cantora, ao mostrar não apenas suas impressões sobre coisas da vida, mas ao utilizar materiais pessoais como documentos, fotos e vídeos de família.
A vida de Rita Lee começa a ser pintado com trechos de entrevistas, como uma feita para Jô Soares, além de mostrar momentos de shows ou em que ela cantava enquanto Roberto, seu parceiro em todas as esferas da vida, tocava.
Além da presença dos filhos, do marido e da irmã Virginia, “Rita Lee: Mania de Você” também traz participação de amigos próximos da cantora, como Gilberto Gil e Ney Matogrosso, além de depoimentos do ex-jogador Walter Casagrande (Rita era corintiana), ex-integrantes da Tutti Frutti e outras pessoas que estiveram perto de Rita durante sua vida, como Guilherme Samora, com quem a cantora escreveu sua autobiografia.
A produção estabelece a linha do tempo narrativa conforme os discos solo da cantora. Começando por 1973, o documentário entrelaça as datas de lançamento dos álbuns com os momentos da vida de Rita.
A escolha, segundo o diretor Guido Goldberg, foi motivada pela intenção da produção não seguir uma ordem cronológica. “[A ideia era fazer] de um jeito mais humano, de compreender a pessoa por trás do disco”, falou em entrevista à CNN.
“Então, sempre que ficamos falando de algum disco no filme, é porque se tem uma razão de se explicar o que estava acontecendo na vida da Rita neste momento”, explicou o diretor. “Deixamos alguns discos geniais fora do filme, mas eu não queria ter um percalço musical pela vida da Rita, mas, pelo contrário, queria que você fosse conhecer o lado humano da Rita, a fragilidade, a força, misturada com a música e o que acontecia no mesmo momento.”
Segundo João Lee, filho de Rita Lee e Roberto de Carvalho, o processo documentário foi totalmente orgânico. “A família junto com a equipe de produção, começar a misturar um pouco do tipo de material que a gente tinha”, falou à CNN.

A produção estava sendo rodada enquanto Rita Lee ainda estava viva. João, que também liderou o processo dos álbuns de remixes de músicas dos pais, voltou a morar com os dois após Rita ter recebido o diagnóstico de câncer.
“Foi uma coisa que foi acontecendo, se materializando em cima desses arquivos e das coisas que estavam acontecendo no momento em que foi gravado”, explicou.
Roberto de Carvalho ressalta que, apesar de abranger boa parte da vida da cantora, muita coisa não foi mostrada no documentário. “O documentário tem uma hora e meia, duas horas de duração – o universo todo ao nosso redor tem décadas, meio século de duração”, explicou, também em entrevista à CNN. “Então tem muita coisa.”
“Muita coisa que foi guardada coisa aqui na nossa casa, é uma coletânea de coisas que foram colecionadas durante a vida”, continuou. “Um mundo de coisas que ainda vão ver a luz do dia.”
João Lee explica que a maior dificuldade na hora de fazer o documentário é escolher o que não vai entrar. “A gente passou por isso na exposição, também. Do mesmo jeito que o documentário tem uma limitação de tempo, a exposição tem uma limitação de espaço”, explicou. “Então a gente teve que deixar muita coisa de fora, que não acabou entrando – o que não significa que essas coisas não vão aparecendo ao longo do tempo.”
“Dirigir o documentário é conviver com a perda o tempo todo”, brincou o diretor Guido Goldberg, ao falar sobre os cortes que são feitos nas diferentes versões da produção.
Momentos íntimos de Rita Lee com a família
“Rita Lee: Mania de Você”, apesar de apresentar a estrutura narrativa com base nos lançamentos musicais da cantora, também dá profundidade à vida pessoal. Além das fotos de acervo e vídeos de família, os depoimentos dos filhos e cartas mostradas levam o telespectador para perto daquela família.
O documentário mostra cenas em que Roberto de Carvalho toca violão durante a gravação em sincronia com vídeos de Rita Lee cantando a música em entrevistas ou participações ao vivo em programas de televisão, de forma tocante.

Ao utilizar algumas das músicas de Rita Lee, o documentário realça a identidade transgressora que marcou as músicas, além de entrar no processo criativo da cantora e dando opinião pessoal dela sobre algumas faixas, como “Coisas da Vida” e “Saúde”.
Ao se aprofundar na carreira musical da cantora, a produção também dá detalhes sobre a pessoa Rita além da artista, relatando, por exemplo, o primeiro e único episódio de overdose da artista, que foi com o uso de cocaína, ou a prisão da cantora, que ocorreu após ela prestar depoimento no caso de um fã que tinha sido morto dentro de um show pelos policias durante a Ditadura Militar.
Reviver os momentos marcantes da vida de Rita Lee emociona os familiares em diversos momentos, ao olhar entre os objetos pessoais e palavras deixadas por ela. Roberto de Carvalho lê uma carta que Rita enviou para ele durante a prisão e se emociona ao ponto de não conseguir concluir a leitura.
“A estratégia foi seguir o ritmo dos acontecimentos, basicamente a estratégia foi essa – e os acontecimentos eram muito intensos, muito importantes, às vezes muito duros, mas está tudo lá”, explicou Roberto de Carvalho à CNN. “Como tudo na vida da Rita, foi tudo exposto. Eu acho que a Rita não iria gostar que eu colocasse dessa maneira, mas: [foi tudo colocado de forma] nua e crua. ‘É isso que está acontecendo, é isso que vai ser mostrado’.”
Outra carta que marca o momento mais emocionante do documentário é uma de despedida que Rita Lee deixou para os filhos.
Duas semanas antes da morte de Rita Lee, foi gravado o momento em que os filhos leem pela primeira vez uma carta deixada pela cantora, com dedicações para cada um dos três. João Lee relevou à CNN que já havia lido a carta antes, mas que foi a primeira vez que Beto e Antonio leram pela primeira vez a mensagem deixada pela mãe. “Então o que você vê ali foi totalmente natural e orgânico”, falou. “Acho que esse lado até meio improvisado de gravar dá esse tom natural e emocionante que eu acho que as pessoas vão ficar emocionadas junto.”
O documentário se encerra da mesma forma que começa: com a voz de Rita dando as impressões da cantora sobre a morte, mostrando imagens do velório de Rita no Planetário do Ibirapuera – que foi a última homenagem para ela, que sempre quis ser abduzida por um disco voador.
“Rita Lee: Mania de Você” já está disponível na Max.
Assista ao trailer de “Rita Lee: Mania de Você”:
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Este conteúdo foi originalmente publicado em “Rita Lee: Mania de Você” dá olhar intimista de vida e despedida da cantora no site CNN Brasil.