O Irã afirmou nesta sexta-feira (11) que estava dando “uma chance genuína” às negociações nucleares de alto nível com os Estados Unidos, após o presidente Donald Trump ter ameaçado bombardear o país caso as discussões fracassassem.
O republicano fez um anúncio surpresa na segunda-feira (7) de que Washington e Teerã iniciariam conversas em Omã, um estado do Golfo que já atuou como mediador entre o Ocidente e a República Islâmica.
O retorno de Donald Trump à Casa Branca em janeiro, que no primeiro mandato retirou os EUA de um acordo de grande potência com Teerã em 2015, trouxe novamente uma abordagem mais dura a uma potência do Oriente Médio cujo programa nuclear Israel, país aliado de Washington, considera uma ameaça existencial.
Ao mesmo tempo, o Irã e grupos aliados foram enfraquecidos pelas ofensivas militares que Israel lançou na região, incluindo ataques aéreos no país, após ser atacado a partir de Gaza pelo grupo militante palestino Hamas em outubro de 2023.
A mídia estatal iraniana informou que as negociações seriam lideradas pelo Ministro das Relações Exteriores, Abbas Araqchi, e pelo enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, com o Ministro das Relações Exteriores de Omã, Badr al-Busaidi, como intermediário.
O Ministério das Relações Exteriores iraniano afirmou nesta sexta-feira (11) que os EUA deveriam valorizar a decisão da República Islâmica de se engajar em negociações, apesar do que chamou de “conflito predominante” de Washington.
“Pretendemos avaliar a intenção da outra parte e resolver a questão neste sábado”, publicou o porta-voz Esmaeil Baghaei no X. “Com seriedade e vigilância sincera, estamos dando à diplomacia uma chance genuína.”
O vice-ministro das Relações Exteriores iraniano, Majid Takht-e Ravanchi, foi citado pela agência de notícias semioficial ISNA dizendo: “Sem ameaças e intimidações por parte dos EUA, há uma boa possibilidade de se chegar a um acordo.”
Ele acrescentou: “Rejeitamos qualquer intimidação e coerção.”
Os ataques aéreos dos EUA contra os houthis do Iêmen, que estão alinhados com o Irã e atingiram rotas marítimas internacionais no Mar Vermelho em apoio ao Hamas, geraram especulações de que Washington possa estar se preparando para atacar o país.
Enquanto isso, Israel retomou a campanha militar devastadora contra o Hamas, que também recebeu apoio do Irã, após várias semanas de trégua, e o cessar-fogo com a milícia libanesa Hezbollah, apoiada pelo Irã, permanece frágil.
Busca de um acordo
O Irã havia rejeitado negociações diretas com Washington antes de Trump anunciar em 30 de março: “Se eles não chegarem a um acordo, haverá bombardeios, e serão bombardeios como nunca viram antes.”
Propostas iranianas “importantes e práticas” foram preparadas em busca de um acordo “real e justo”, falou Ali Shamkhani, conselheiro do Líder Supremo do Irã, Aiatolá Ali Khamenei, em uma publicação no X.
“Se Washington participar das negociações com intenções sinceras e vontade genuína de chegar a um acordo, o caminho para um acordo será claro e tranquilo”, acrescentou Shamkhani.
Desde que Trump retirou os Estados Unidos do acordo de 2015 que restringia a atividade de enriquecimento de urânio do Irã, considerando o acordo profundamente falho, Teerã acumulou um estoque de urânio refinado a níveis próximos ao que seria adequado para combustível de bomba nuclear.
O Irã concordou, no acordo firmado durante o governo do presidente dos EUA, Barack Obama, em limitar rigorosamente a atividade de enriquecimento em troca do levantamento das sanções econômicas globais.
Teerã afirma que o programa visa exclusivamente fins energéticos pacíficos, mas o Ocidente afirma que ele vai muito além de quaisquer requisitos civis e suspeita que o país esteja buscando secretamente desenvolver capacidade de armas nucleares.
Negociações diretas e indiretas
A confusão surgiu depois que Trump anunciou que as negociações entre os adversários geopolíticos de longa data seriam diretas, enquanto o Irã insistiu que seriam indiretas, com os omanenses atuando como mediadores.
Shamkhani falou que Araqchi estava indo para o vizinho Omã com “plena autoridade” para negociações indiretas.
Os Estados Unidos e o Irã mantiveram negociações indiretas durante o mandato do presidente Joe Biden, que terminou em janeiro, mas com pouco ou nenhum progresso.
As últimas negociações diretas conhecidas entre os dois governos foram sob o governo Obama.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Irã diz que dará uma chance às negociações dos EUA sobre planos nucleares no site CNN Brasil.