‘Eliminada do Big Brother’: Prefeita suspeita de escolher aprovados em seletivo excluiu candidata até por não seguir nas redes sociais


Luiza Maura é investigada pelo Ministério Público por suspeita de interferir no processo de contratação de professores e outros profissionais e até alterar as notas dos candidatos. Trecho de conversa da prefeita Luiza Maura afirmando eliminação de candidata; transcrição está na decisão judicial que autorizou buscas na casa da investigad
Reprodução/Facebook e Reprodução/Decisão judicial
Investigada por interferir em processos seletivos para contratação de profissionais da Educação, a prefeita de São João da Baliza, Luiza Maura (PP), chegou a eliminar uma candidata até porque a pessoa não a seguia nas redes sociais. Trechos de conversas disponíveis na decisão que autorizou as buscas na casa da prefeita mostram que ela adotava “critérios subjetivos” para decidir quais seriam os aprovados.
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O g1 teve acesso nesta quinta-feira (6) à decisão que autorizou a operação que teve Luiza como alvo. Assinada pela juíza Rafaella Holanda Silveira da Vara da Fazenda Pública de São Luiz do Anauá no dia 28 de fevereiro, o documento mostra trechos de conversas em que Maura aparece até fazendo piada com a falta de lisura do processo.
Em um dos momentos, ela chega a comparar o seletivo com o reality show Big Brother Brasil, onde os participantes são eliminados de acordo com o voto popular. Ela afirma que eliminou o candidato por não o seguir nas redes sociais (Veja os trechos abaixo).
“Eliminada do big brodrer. Sinto muito. Não me segue. Fica fora. Quem que rezar a cartilha. Pq só a gente sabe que sai sangue na pele [Sic]”, diz Luiza Maura em mensagens incluídas na decisão.
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🔎 Luiza Maura (PP), foi alvo de operação que investiga a interferência dela em processos seletivos para contratação de profissionais da Educação no município. A ação cumpriu mandados de buscas e apreensão na casa dela, na sede da prefeitura e foi conduzida pelo Ministério Público de Roraima apoio da Polícia Civil, nesta quinta-feira (6).
As investigações iniciaram após denúncia da secretária de educação de Baliza sobre a interferência da prefeita no processo seletivo realizado em 2023. O certame ofertava vagas para contratação temporária de professores da educação básica, pessoal de apoio e formação de cadastro reserva para atender às necessidades da rede municipal. Agentes também fizeram buscas na sede da Secretaria Municipal de Educação.
Trechos de conversas mostram que Luiza Maura determinava que as aprovações passassem por sua análise e que ela alterava as notas originais atribuídas pela comissão examinadora, modificando a classificação final de acordo com a própria vontade e a de aliados políticos.
‘Meu amor, fui eu que te ajudei’
Luiza Maura em conversas usadas como provas para operação em que ela foi alvo
Reprodução
As investigações apontam que Luiza chegava a se reunir com os candidatos aprovados para “deixar claro” que eles não passaram no certame por méritos próprios, mas sim com a ajuda dela. Trechos de conversas mostram que ela, inclusive, priorizava interesse próprios.
A prefeita demonstra nas conversas que tinha intenção de incluir no seletivo pessoas que já haviam trabalhado anteriormente, orientando-as a se inscreverem, mas conversando antes.
“A [candidata] me ligou ontrm. Cheia de vergonha dizendo que tinha passado no seletivo. Perguntando se eu tinha visto. E que daí ela teria que sair do creas. Wu falei: meu amor, fui eu que tr ajudei. Sua pontuação ficou lá em baixo. Ela tava achando que era por mérito [Sic]”, disse a prefeita em conversa com a então secretária.
Outros políticos faziam indicações de nome para aprovação no seletivo. De acordo com a juíza, a ideia era fazer uma “troca de favores ou alianças partidárias” usando o seletivo.
O documento também aponta a ocorrência de rasuras e borrões nas fichas de avaliação dos candidatos, o que reforça a suspeita de manipulação das notas. Ela chegou a exigir que a mostrassem a lista dos participantes do seletivo para definir quem ficaria e quem sairia.
“Amanhã vamos lá na prefeitura então por favor. Leve aquela lista que te pedi! Uma lista só dos seletivados é uma só dos comissionados. Daí vou ficar quem fica e quem sai [Sic]”, disse a prefeita em trecho de conversa.
No documento, a juíza afirma que a prefeita tinha “plena ciência” de que a interferência contrariava os princípios da administração pública e pediu sigilo sobre a relação dos participantes. Ela exigiu ainda que as datas de inscrições fosse alterada pare que desse tempo da própria organizar a lista de quem fica ou não no seletivo
“Bom dia. Como ontem. Foi o último dia. Da seletiva. Já conversa con quen vai finalizar a lista. E me passa. Ao menos ora eu ve ks nomes… logo. E pede sigilo pelo amor de jesus. Antes que vaze os nomes [Sic]”, disse.
Operação contra a prefeita Luiza Maura
Operação investiga esquema em seletivo na prefeitura de São João da Baliza
Reprodução
A juíza então permitiu que fossem apreendidos “aparelhos telefônicos, tablets, smartphones, computadores, notebooks, pendrives, HDs, e quaisquer materiais com capacidade de armazenamento de dados”.
Na operação desta quinta, foram apreendidos R$ 190 mil em espécie na casa da prefeita, além de aparelhos telefônicos, vários computadores, notebooks, pendrives e documentos. O objetivo foi colher material probatório referente a irregularidades cometidas no processo seletivo.
Quem é Luiza Maura
Luiza Maura está no segundo mandato como prefeita de São João da Baliza. Foi reeleita com 3.852 votos (79,50%) em 2024. Ela declarou ao Tribunal Superior Eleitoral patrimônio R$ 355 mil, referentes a uma casa, terreno e dinheiro em espécie. Natural de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, ela tem como vice-prefeito o Professor Romilson (Republicanos).
Este ano, 13 dias após assumir para o segundo mandato, ela sancionou uma lei que aumentava o próprio salário e o do vice-prefeito. Com a mudança, o salário dela subiu para R$ 13,5 mil e do vice R$ 9,5 mil.
Ainda em 2022, no primeiro mandato, Luiza sancionou uma honraria que concedia a ela mesma o título de Cidadã Honorária de Baliza. Com isso, passou a ser um conterrânea, “filha da cidade”. À época, ela justificou que a iniciativa havia partido da Câmara Municipal e que havia a apenas sancionado a ideia.
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