Em menos de 24h entre quinta (22) e sexta-feira (23), analistas do mercado e do mundo político acompanharam atentos a uma história recheada de suspense, surpresas e reviravoltas, protagonizada pela equipe econômica do governo federal.
O mote era os anúncios que os ministérios da Fazenda e do Planejamento anunciaram para às 14h30 de quinta. O que era para ser algo positivo, com o congelamento de R$ 31,3 bilhões no orçamento, logo tornou para o outro lado quando o governo também revelou o plano para aumentar a tributação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Pior que o aumento de impostos, foram os detalhes da medida, com destaque para a tributação de fundos que investem no exterior.
A ojeriza do mercado à proposta se revelou nos principais indicadores do mercado brasileiro. Antes do anúncio oficial, quando informações vazadas apontavam para o congelamento de R$ 31,3 bilhões — acima das melhores expectativas — o Ibovespa ganhou fôlego e o dólar caiu para a casa de R$ 5,60.
Quando os detalhes da elevação do IOF vieram a tona, a situação inverteu. O temor dos investidores de que a medida podeira se aproximar de um controle de capitais e aumentar as incertezas derrubou o mercado — movimento que se espraiou para as negociações “after hours”.
O governo reagiu horas depois da medida e anunciou em rede social a revogação da tributação de fundos no final da noite de quinta. Na sexta, o desfecho veio com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, convocando uma coletiva de imprensa para explicar o recuo.
Confira abaixo os principais pontos da novela entre idas e vindas do IOF:
Quinta-feira
Início da tarde: Informações vazadas apontavam que o primeiro Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias de 2025 iria anunciar o congelamento de R$ 31,3 bilhões para cumprir a meta fiscal.
O anúncio oficial estava previsto para 14h30, com coletiva dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet (Planejamento).
A notícia trouxe ânimo ao mercado, com Ibovespa operando em alta e o dólar recuando para faixa de R$ 5,60.
14h30: Equipe econômica atrasa publicação do relatório.
14h50: Em evento em São Paulo, o ministro dos Transportes, Renan Filho, “fura” o anúncio do governo e confirma que o bloqueio era de R$ 31 bilhões, e que também seria anunciado aumento do IOF.
A medida surpreendeu o mercado e expôs uma falta de alinhamento na comunicação interna. Depois, disse que tinha visto na imprensa a notícia.
Às 14h57, o Ibovespa bate a máxima do dia, aos 138.837 pontos. O dólar operava em tendência de baixa, a R$ 5,64.
15h16: Com quase uma hora de atraso, o governo federal apresenta o primeiro Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias de 2025. O documento confirma o congelamento de R$ 31,3 bilhões no orçamento de 2025 com o objetivo de cumprir o arcabouço fiscal, além de mudanças no IOF.
15h30: Ibovespa vira tendência para queda e dólar começa a dar sinais para cima.
Quinta-feira, final da tarde: alta do IOF azeda mercado
17h: Próximo ao fechamento do mercado, o governo formalizou o aumento do IOF em decreto que ampliou as alíquotas para diversas operações. A previsão era arrecadar R$ 61 bilhões em dois anos.
O mercado ainda captou parte do mau humor que estaria por vir: Ibovespa fechou em queda de 0,44%, aos 137.272 pontos, enquanto o dólar subiu 0,35%, a R$ 5,66.
Fim de tarde/início de noite: O mercado reagiu com queda nas ações de bancos e seguradoras, diante do temor do aumento do custo do crédito e da captação de recursos. A avaliação geral foi de que a elevação do IOF, somada à taxa Selic em 14,75% ao ano, elevou o custo do capital para as empresas, reduzindo o interesse por novas operações.
O anúncio causou fortes reações de analistas, com incertezas e mudanças bruscas que impactaram principalmente bancos, seguradoras e empresas. Bancos começaram a mandar pushs para os clientes pedindo para “correr” e comprar moedas estrangeiras antes da meia-noite, quando passaria a valer o decreto.
A pressão gerou uma reunião emergencial no Palácio do Planalto, com ministros-chave.
23h31: O Ministério da Fazenda, por meio de uma postagem o X, anuncia recuo em parte das medidas e mantém zero IOF para fundos que investem no exterior.
Sexta-feira pela manhã: Haddad se explica
7h30: Assessoria da Fazenda anuncia que Haddad iria fazer um comunicado à imprensa, às 8h15, no escritório da pasta em São Paulo.
8h30: Haddad afirma que Fazenda recuou sobre mudança no IOF para evitar especulações e que o recuo iria ter impacto de R$ 2 bilhões.
“Depois do anúncio de ontem, às 17h, recebemos uma série de subsídios de pessoas que operam no mercado salientando que aquilo poderia acarretar algum tipo de problema e passar uma mensagem que não era o que queria pelo Ministério da Fazenda”, disse a jornalistas.
9h: Dólar abre em leve alta, a R$ 5,71.
10h: Ibovespa abre em queda, aos 137.153 pontos.
Sexta-feira à tarde: Galípolo elogia rapidez da Fazenda
14h: Em evento, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, elogiou a rapidez da Fazenda em revogar a proposta, destacando que o recuo ocorreu “antes mesmo do mercado abrir”, após ouvir críticas da sociedade.
O presidente do BC também afirmou ser contra usar o IOF como medida arrecadatória.
17h15: Ibovespa devolve perdas da véspera e encerra com alta de 0,4%, aos 137.824 pontos. O dólar vai na direção oposta e fecha com perda de 0,24%, a R$ R$ 5,647 na venda.
Veja como ficam as compras internacionais com as novas regras do IOF
Este conteúdo foi originalmente publicado em Atrasos, reunião de emergência e recuos: o roteiro da “novela” do IOF no site CNN Brasil.