Trump x África do Sul: Entenda alegações de “genocídio branco”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez várias alegações sobre uma suposta perseguição à minoria branca da África do Sul durante uma reunião no Salão Oval nesta quarta-feira (21) com o presidente Cyril Ramaphosa.

Ramaphosa tentou rebater as afirmações, mas foi frequentemente interrompido por Trump, que as repetiu.

Trump pediu à equipe que exibisse um vídeo composto principalmente por clipes de discursos inflamados de alguns políticos sul-africanos que circulavam nas redes sociais.

Entenda as alegações:

  • 1. “Há um genocídio de agricultores brancos na África do Sul”

Essa teoria tem sido propagada por alguns grupos de sul-africanos brancos desde o fim do apartheid em 1994. Ela circula em salas de bate-papo da ultradireita global há pelo menos uma década, com o apoio declarado do aliado de Trump, o sul-africano Elon Musk.

Os defensores da teoria apontam os assassinatos de fazendeiros brancos em áreas rurais remotas do país como prova de uma campanha politicamente orquestrada de limpeza étnica, e não de crimes violentos comuns.

Eles acusam o governo, liderado por maioria negra, de ser cúmplice dos assassinatos em fazendas, seja por incentivá-los ou, pelo menos, por “fazer vista grossa”. O governo nega veementemente.

A África do Sul tem uma das maiores taxas de homicídio do mundo, com uma média de 72 por dia, em um país de 60 milhões de habitantes. A maioria das vítimas é negra.

A polícia sul-africana registrou 26.232 assassinatos em todo o país em 2024, dos quais 44 estavam ligados a comunidades agrícolas. Destes, oito das vítimas eram agricultores.

O tribunal superior da província do Cabo Ocidental decidiu que as alegações de genocídio branco eram “claramente imaginárias e não reais” em um caso no início deste ano, proibindo doações a um grupo supremacista branco com base nesses argumentos.

  • 2. “O governo está expropriando terras de fazendeiros brancos sem indenização, inclusive por meio de apreensões violentas de terras, para distribuí-las aos sul-africanos negros”.

O governo tem uma política de tentar corrigir as desigualdades na propriedade da terra, um legado do apartheid e do colonialismo. Mas nenhuma terra foi expropriada, e o governo, em vez disso, tentou encorajar fazendeiros brancos a venderem suas terras voluntariamente.

Isso não funcionou. Cerca de três quartos das terras agrícolas privadas ainda estão nas mãos de brancos, que representam menos de 8% da população, enquanto 4% pertencem a sul-africanos negros, que representam 80%.

Em um esforço para resolver isso, Ramaphosa sancionou uma lei em janeiro permitindo que o Estado exproprie terras “no interesse público”, em casos raros, sem indenizar o proprietário. A lei exige que as autoridades primeiro tentem chegar a um acordo. Ela ainda não foi utilizada.

  • 3. “A canção “Kill the Boer (farmer)” cantada por alguns sul-africanos negros é um apelo explícito ao assassinato dos afrikaners, o grupo étnico de ascendência europeia que compõe a maioria dos brancos e possui a maior parte das terras agrícolas”.

A canção remonta à resistência contra o apartheid, quando os nacionalistas afrikaners controlavam o país. Em um dos videoclipes exibidos por Trump, o líder da oposição, Julius Malema, do partido marxista Economic Freedom Fighters (EFF), canta a canção.

Três tribunais sul-africanos decidiram contra tentativas de classificá-la como discurso de ódio, alegando que se trata de um cântico histórico de libertação, e não de uma incitação literal à violência.

Em um comunicado após o encontro entre Trump e Ramaphosa, a EFF afirmou que se tratava de “uma canção que expressa o desejo de destruir o sistema de controle da minoria branca sobre os recursos da África do Sul” e que “faz parte da herança africana”.

  • 4. Trump exibiu um videoclipe que mostrava uma longa fileira de cruzes brancas à beira de uma rodovia, que Trump disse serem “locais de sepultamento” para fazendeiros brancos.

O vídeo foi gravado em setembro de 2020, durante um protesto contra assassinatos em fazendas, após duas pessoas terem sido mortas em sua propriedade uma semana antes.

As cruzes não marcavam sepulturas reais. Um organizador disse à emissora pública sul-africana, SABC, na época, que as cruzes de madeira representavam fazendeiros que haviam sido mortos ao longo dos anos.

  • 5. A cena de abertura do vídeo da Casa Branca mostra Malema no parlamento sul-africano anunciando que “as pessoas vão ocupar terras. Não precisamos de permissão do presidente”. Também mostra outro clipe dele prometendo desapropriar propriedades.

Algumas terras foram ocupadas ilegalmente ao longo dos anos, principalmente por milhões de invasores que não tinham para onde ir, embora algumas apreensões de terras tenham motivação política.

As terras geralmente não são utilizadas e não há evidências de que a EFF tenha orquestrado qualquer invasão de terras.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Trump x África do Sul: Entenda alegações de “genocídio branco” no site CNN Brasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.