Aposentados e pensionistas são assediados, por telefone, com ofertas que vão de empréstimos consignados a plano funerário


Recém-aposentados são alvos preferenciais porque ainda não têm empréstimos consignados feitos e podem comprometer até 45% do benefício com dívidas. Aposentados recebem quase 100 ligações por dia com ofertas de empréstimos e produtos
Além de descontos indevidos, aposentados e pensionistas do INSS reclamam do assédio que sofrem, por telefone, com ofertas de empréstimos consignados e até de plano funerário.
O celular toca e não apenas uma, duas ou três vezes por dia.
“Tem dia que é 60, 50, 60 ligações por dia. Aí você bloqueia aquela ligação, em seguida liga outro número, e assim vai o dia”, conta a aposentada Cláudia Helena dos Santos.
Quando as chamadas começaram, a Cláudia estranhou, porque, apesar de já ter dado entrada na aposentadoria no INSS, ainda não tinha sido informada de que o benefício tinha saído. Recém-aposentados são alvos preferenciais porque ainda não têm empréstimos consignados feitos e podem comprometer até 45% do benefício com dívidas.
Para tentar botar freio no assédio de instituições de crédito, associações diversas e até funerárias, a Cláudia registrou várias reclamações.
“Reclamei no Procon, no Meu INSS, mandei um e-mail através da plataforma do Banco Central por causa das empresas ficarem me ligando e para ver quem vazou a informação e quem poderia dar uma solução”, afirma Cláudia Helena dos Santos.
Repórter: Alguém deu solução?
Cláudia: Não.
E a Cláudia tem vasta companhia.
“Inferno. Não tem outro nome, é um inferno. Porque, por mais que você bloqueie, a quantidade de ligação que vem de outros números, novos números… E alguns têm uma abordagem agressiva, chegam a ser agressivos, porque partem do princípio que nós somos ignorantes”, diz a jornalista aposentada Ana Cristina de Moraes Sampaio.
E não é de hoje que o dinheiro da Previdência é saqueado por fraudadores, e que aposentados, pensionistas e beneficiários são assediados e têm seus dados vazados. Desde que foi criado, em 1990, o instituto que deveria proteger o dinheiro poupado e o sossego de quem se aposentou tem falhado com frequência nessa tarefa. E faz tempo que a sucessão de escândalos enche o noticiário com fraudes milionárias, bilionárias e de todo tipo, envolvendo acesso a informações que deveriam estar protegidas.
O novo presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, explicou que até duas semanas atrás os dados dos segurados estavam abertos, mas que isso mudou.
“Ela ficava aberta para que as instituições financeiras pudessem olhar, conferir e de alguma forma oferecer produtos. A gente mudou essa realidade e hoje, a partir do momento que ele contrata o consignado, essa autorização para colheita, para poder analisar, para verificar a sua margem, ela fecha e só abre novamente com autorização do nosso segurado”, afirmou.
A Defensora Pública Federal, que atua junto ao INSS, diz que o atual bloqueio para novos descontos e consignados – feito depois do escândalo das associações fraudulentas – deveria servir como ponto de virada para denúncias nunca resolvidas, que atingem principalmente aqueles com mais dificuldades de entender, se informar e se proteger.
“Eu fico frustrada principalmente de saber que nós já identificamos esse problema há um certo tempo. E já tentamos o diálogo e muitas vezes a gente não conseguiu ter uma solução linear e efetiva para todo mundo”, afirma Maíra Mesquita, defensora pública federal e coordenadora da Câmara de Coordenação e Revisão Cível da DPU.
Há duas semanas no cargo o novo presidente que já foi corregedor e ouvidor do INSS promete.
“Assédio vai acabar e se tiver o assédio, denuncie. Nos auxilie a combater essa prática irregular”, declarou Gilberto Waller.
A Federação Brasileira de Bancos declarou que condena qualquer tentativa de assédio ou fraude na prestação de serviços e produtos bancários. E que, desde que a autorregulação do consignado entrou em vigor, em 2020, aplicou 1,4 mil medidas administrativas.
Aposentados recebem quase 100 ligações por dia com ofertas de empréstimos e produtos
Reprodução/TV Globo
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