No início dos anos 2000, a promessa de um aumento peniano fácil e rápido era amplamente vendida em páginas de jornais e revistas. Um homem, com pouco mais de 20 anos, foi um dos muitos seduzidos pela ideia de melhorar a aparência íntima. Hoje, aos 40, ele carrega as marcas físicas e emocionais de uma decisão tomada sem as devidas precauções.
Em 2007, Mário, nome fictício, viajou de Brasília a São Paulo para realizar seu primeiro procedimento. O produto utilizado foi o polimetilmetacrilato, conhecido como PMMA, um tipo de plástico que, uma vez injetado no corpo, permanece ali de forma permanente.



“Era em um lugar meio escondido, mas, como tinha esse desejo, não verifiquei se o profissional era médico ou sua formação, nem qual produto seria utilizado”, conta Mário, em entrevista ao Metrópoles.
O resultado inicial foi satisfatório, segundo ele. A confiança cresceu e, nos anos seguintes, Mário voltou a repetir o procedimento mais duas vezes. Na última, um novo médico sugeriu algo mais ousado, aplicar o PMMA também na bolsa escrotal, e foi aí que começou o problema.
Dois anos após a terceira aplicação, seu corpo começou a dar sinais claros de rejeição, inflamações frequentes e dolorosas surgiram na região pélvica. No intuito de controlar os sintomas, Mário recorreu ao uso contínuo de corticoides, o que comprometeu o funcionamento de seus rins.
“Precisei usar corticoides com frequência, o que afetou os meus rins. Enquanto isso, comecei a buscar com outros profissionais algum médico que pudesse retirar esse produto sem perda do órgão, mas descobri como era desafiador conseguir um especialista que encarasse o desafio”, relata.
A dificuldade em remover o PMMA está no fato de que ele se adere aos tecidos como uma substância pegajosa, exigindo, muitas vezes, a retirada de partes da pele e da musculatura. Sua busca por uma solução definitiva teve fim em 2024, quando conheceu o urologista Ubirajara Barroso, membro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). O médico recomendou a remoção cirúrgica do produto, começando pela região mais comprometida.
“Ele conseguiu reconstruir minha bolsa escrotal e achei que não teria mais complicações. Este ano, porém, o PMMA do pênis começou a ter complicações. Sou corredor e durante a prática, pelo atrito, acabei tendo uma pequena ferida no órgão. Essa ferida não cicatrizava e, quando notei isso, percebi que precisaria de uma nova intervenção cirúrgica”, lembra Mário.
A nova cirurgia retirou boa parte do produto e impediu que o dano se tornasse irreversível. “Fiquei muito grato. Hoje percebo como me enganei com aquelas ofertas de uma solução mágica”, afirma.
Desafiador
Barroso, que conduziu os procedimentos, descreve o caso como um dos mais desafiadores de sua carreira. “Tivemos que tratar a pele dele, que estava necrosada. Houve uma melhora importante, mas ainda com uma grande perda tecidual. O que nós fizemos foi retirar todo o material inflamado, o que estava lá que poderia inflamar no futuro também, e reconstruímos o pênis do ponto de vista estético, já que havia tido uma deformidade local”, explica.