A Polícia Federal apreendeu, nesta terça-feira (20), seis veículos de luxo que estariam ligados a Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “careca do INSS”. A ação faz parte da Operação Sem Desconto, que apura um esquema bilionário de descontos indevidos em aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Os carros foram localizados no estacionamento de um prédio comercial no Setor Bancário Norte, em Brasília, após uma denúncia anônima. Entre os veículos apreendidos estãoum BMW Competition, um Land Rover, um BMW M135i, um Porsche 911, um Porsche Panamera e outro modelo ainda não identificado. Juntos, os automóveis somam R$ 3.288.042,00.
A informação chegou à Polícia Federal por meio da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que relatou ter recebido uma ligação anônima indicando que os veículos pertenciam ao “careca do INSS” e estavam estacionados na garagem do edifício, o mesmo onde a mantém um escritório político.
“Desci até a garagem e vi os carros. São, de fato, veículos de luxo, espalhados pelo andar. Fiz imagens e anotei as placas. Imediatamente, segui até a Polícia Federal para entregar essas informações à área de inteligência”, contou a senadora.
Antes de levar as informações à PF, a senadora contou que fez uma consulta das placas dos carros estacionados no prédio e constatou que ao menos um deles estava ligado ao esquema fraudulento no INSS, investigado pela polícia. “Inclusive, em nossos levantamentos, uma das placas está vinculada a uma sociedade na qual o tal ‘careca’ é sócio, o que reforça a suspeita de que os carros são dele”, acrescentou.
O mandado de busca e apreensão foi autorizado pela 4ª Vara Federal Criminal de São Paulo, que conduz o inquérito. De acordo com a PF, Antunes é apontado como operador financeiro de uma das entidades investigadas e suspeito de ter adquirido os veículos com recursos obtidos por meio de fraudes. Em apenas três meses, ele teria acumulado um patrimônio de R$ 14 milhões, segundo relatório policial.
Operação Sem Desconto
A apreensão dos carros representa uma nova etapa da Operação Sem Desconto, deflagrada em abril. Na primeira fase das investigações, mais de 200 mandados de busca foram cumpridos em 12 estados. O esquema, segundo a PF, teria causado um rombo de R$ 6,3 bilhões em cinco anos.
Segundo a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU), entidades e associações estavam realizando descontos não autorizados nos benefícios pagos a aposentados e pensionistas. Esses valores seriam referentes à mensalidade associativa, que é permitida pela Lei dos Benefícios da Previdência Social, com base em Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) firmados entre o INSS e essas organizações, desde que os beneficiários autorizem a dedução.
No entanto, investigações apontaram que esses descontos estavam sendo realizados de forma fraudulenta, em que muitos aposentados e pensionistas sequer tinham conhecimento dos valores deduzidos de seus benefícios. O caso vinha sendo apurado administrativamente desde 2023, culminando na deflagração da Operação Sem Desconto.
Após a operação, a AGU criou um grupo especial para atuar em medidas judiciais e administrativas com o objetivo de recuperar os prejuízos, ressarcir os beneficiários lesados e implementar novas ações contra fraudes.
Politicamente, parlamentares ingressaram com pedidos de criação de comissões para investigar, no âmbito do Congresso Nacional, o esquema fraudulento e os envolvidos com ligações políticas. Nesse sentido, a atuação de Damares para viabilizar a apreensão dos veículos nesta terça-feira ocorreu em paralelo à articulação para instalar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigue os descontos ilegais em benefícios do INSS.
A senadora é uma das autoras do requerimento que propõe a criação do colegiado. “Espero que os carros sejam apreendidos e vendidos, e farei questão de solicitar que o dinheiro arrecadado seja devolvido imediatamente aos aposentados. E quero começar pelo meu Distrito Federal. Esses primeiros bens devem beneficiar os idosos do DF. Depois, os idosos do Marajó e, enfim, os idosos de todo o Brasil”, assegurou Damares.
A Polícia Federal segue com as investigações e não descarta novas apreensões nos próximos dias. Antunes, até o momento, não se manifestou publicamente sobre o caso.