Índia e Paquistão reivindicam vitória, mas hostilidades continuam

Os confrontos desta semana entre o Paquistão e a Índia podem ser considerados como a mais séria escalada de tensões entre esses dois inimigos históricos em décadas, com milhões de pessoas em ambos os lados da fronteira se perguntando o que pode acontecer a seguir.

Apesar da promessa de “vingar” os ataques da Índia em seu território, o Paquistão ainda não retaliou contra a Índia, e ambos os lados parecem já ter reivindicado a vitória. Mas as hostilidades continuam.

O pânico palpável abalou ambas as nações na quarta-feira (7), depois que Nova Déli lançou ataques militares direcionados ao seu vizinho, enquanto Islamabad alegou ter derrubado os caças do rival.

Nesta quinta (8), o Paquistão alegou ter derrubado pelo menos 25 drones indianos de munição em todo o país durante a noite, no que chamou de uma nova “provocação grave” a partir de Nova Déli, que feriu quatro soldados e matou um civil.

A CNN não pôde verificar essas alegações de forma independente e entrou em contato com a Força Aérea e o Ministério da Defesa da Índia.

O medo é que cada passo adicional de confronto de qualquer um dos lados possa rapidamente se transformar em um conflito total.

A mídia indiana estava eufórica após os ataques de quarta-feira (7). “Golpes de justiça”, dizia um editorial de um dos principais jornais ingleses da Índia, elogiando a resposta “rígida” e “resoluta” do país ao massacre de 26 pessoas na Caxemira administrada pela Índia, nas mãos de militantes. Uma manchete do The Indian Express ecoava um tom semelhante: “Justiça Feita”, dizia a manchete na primeira página.

No Paquistão, a resposta pública do primeiro-ministro Shehbaz Sharif foi igualmente belicosa. Ele prometeu “vingar” as mortes de 31 pessoas que, segundo o Paquistão, foram mortas em ataques da Índia, mas ainda assim pareceu declarar triunfo por seus aparentes disparos contra aviões da Índia.

“Bastou algumas horas para que o inimigo caísse de joelhos”, disse ele em um discurso noturno à nação.

A Índia afirma ter atingido “infraestrutura terrorista” pertencente a dois grupos islâmicos – Lashkar-e-Tayyiba e Jaish-e-Mohammed – acusados ​​de estarem por trás de alguns dos ataques militantes mais mortais no país. Os ataques de quarta-feira (7) não tiveram como alvo infraestrutura militar e não mataram civis, afirmou Nova Déli, o que pode dar à Índia e ao Paquistão a oportunidade de encontrar uma maneira de evitar uma guerra total.

Um local atingido pela Índia foi na província de Punjab, no Paquistão, o ataque mais profundo no território incontestável do Paquistão desde que ambos os países travaram uma grande guerra em 1971. O ataque também teve como alvo vários outros locais em Punjab — o coração do poderoso exército e sede do governo Sharif — e atingiu uma mesquita, de acordo com autoridades paquistanesas, irritando milhões de pessoas no país de maioria muçulmana.

O que acontece agora, dizem analistas, depende principalmente do próximo movimento de Islamabad.

“Todos os olhos estão voltados para o Paquistão”, disse Michael Kugelman, analista do Sul da Ásia baseado em Washington. “Se o país decidir salvar a cara e reivindicar a vitória — talvez apontando para a queda de jatos indianos (que Nova Déli não confirmou) — e encerrar o assunto, uma saída pode estar à vista.” Mas ele alertou que “todas as apostas seriam canceladas” caso o Paquistão decidisse contra-atacar.

“Algo a perder”

A maioria dos analistas concorda que os vizinhos com armas nucleares não podem se dar ao luxo de outra batalha.

Índia e Paquistão já travaram três guerras pela Caxemira, uma região disputada que ambos reivindicam integralmente e da qual cada um controla parte. Outro conflito pode ter consequências catastróficas.

Desde seu nascimento, há sete décadas, na divisão do que era a Índia Britânica, o Paquistão — agora lar de 230 milhões de pessoas — tem enfrentado desafios crescentes, desde instabilidade política a uma alarmante insurgência militante, catástrofes climáticas e desordem econômica.

A Índia parece estar em uma posição mais forte; seu exército é visto como superior em qualquer conflito convencional, com base apenas em números, e o país ostenta uma economia mais de 10 vezes maior que a do Paquistão. Mas também teria algo a perder se o conflito se intensificasse, de acordo com Tanvi Madan, pesquisadora sênior do programa de Política Externa da Brookings Institution.

“Em grande parte com base no que vimos em épocas anteriores, esses são dois atores racionais que não querem uma guerra mais ampla”, disse Madan.

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, prometeu elevar o status da Índia no cenário global, candidatando-se a sediar as Olimpíadas e buscando ultrapassar a China como o centro industrial do mundo.

Sem mencionar que a Índia já enfrenta ameaças à segurança em diversas frentes — principalmente ao longo das fronteiras contestadas com a China.

Desescalada ou mais por vir?

A Índia foi rápida em projetar que sua resposta ao massacre de 22 de abril foi “focada, comedida e não escalonada” e deixou claro que era uma resposta ao massacre do turista.

Altos funcionários em Nova Déli entraram em contato com seus principais colegas nos Estados Unidos, Oriente Médio e Rússia, entre outros, “presumivelmente para encorajar a pressão internacional para que o Paquistão evitasse a escalada”, disse Nisha Biswal, consultora sênior do The Asia Group.

Os líderes do Paquistão comemoraram uma vitória da força aérea do país, dizendo que cinco caças indianos foram abatidos durante uma batalha de uma hora travada a distâncias de mais de 160 quilômetros.

Os líderes indianos pouco se manifestaram em resposta a essas alegações e não reconheceram nenhuma perda de aeronaves. Os paquistaneses ainda não apresentaram nenhuma evidência que comprove o abate de caças, mas uma fonte do Ministério da Defesa francês afirmou que pelo menos um dos aviões de guerra mais novos e avançados da Índia – um caça Rafale de fabricação francesa – foi perdido na batalha.

Se de fato houve perdas para a Índia, o Paquistão poderia reivindicar a vitória “mesmo que as circunstâncias sejam obscuras”, disse Milan Vaishnav, pesquisador sênior e diretor do Programa do Sul da Ásia no Carnegie Endowment for International Peace. “Isso permitiria ao Paquistão alegar que impôs custos a alvos militares indianos.”

No entanto, em meio à névoa da guerra, o poderoso general do exército paquistanês, Asim Munir, já havia prometido revidar qualquer agressão da Índia.

E Munir, conhecido por sua postura linha-dura em relação ao nacionalista hindu Modi, tem a reputação de ser mais assertivo que seu antecessor, Qamar Javed Bajwa.

Enquanto isso, há anos muitas vozes dentro do partido nacionalista hindu de Modi pressionam por um golpe decisivo contra o Paquistão.

Kugelman, o analista do Sul da Ásia, disse que os EUA, que historicamente intercederam nessas crises, poderiam tentar aliviar a tensão, mas não está claro quanta largura de banda o governo Trump está disposto a alocar.

“A China pediu uma redução da tensão, mas seus laços tensos com a Índia a excluem como intermediária viável. Os principais candidatos a mediadores são os Estados do Golfo Árabe, especialmente Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos”, disse ele, dados os fortes laços com ambas as nações.

O Catar foi rápido em pedir diplomacia nas horas seguintes aos ataques de quarta-feira (7).

Embora a maioria dos analistas acredite que haja uma saída para ambas as nações, todos concordam que a situação continua fluida e tensa. “Esta crise é tão imprevisível quanto perigosa — uma combinação inquietante”, acrescentou Kugelman.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Índia e Paquistão reivindicam vitória, mas hostilidades continuam no site CNN Brasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.