Fed deve manter taxa de juros em meio a incertezas com tarifas

O Federal Reserve (Fed, na sigla em inglês) deixará sem dúvida a taxa de juros inalteradas na quarta-feira (5), mas a reunião pode ser a última em que o resultado será tão claro e direto, com as tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançando uma sombra de incerteza sobre as perspectivas econômicas.

A implementação errática das tarifas mais altas dos EUA em um século por parte de Trump derrubou a confiança dos consumidores e das empresas, pressionou a indústria e provocou uma corrida às importações tão grande que o Produto Interno Bruto dos EUA encolheu inesperadamente no último trimestre.

Uma debandada de empresas norte-americanas, incluindo McDonald’s, General Motors e Apple, alertou sobre grandes impactos nos balanços, uma vez que as taxas de importação mais altas aumentam os custos e impedem os gastos. Companhias aéreas, incluindo a Delta Airlines, cancelaram completamente suas previsões.

As autoridades do Fed preveem que as tarifas irão aumentar tanto a inflação quanto o desemprego, embora não se saiba ao certo em que grau e por quanto tempo. Os dados econômicos disponíveis até o momento não sugerem que a economia esteja desmoronando.

Apesar do declínio anualizado de 0,3% no PIB dos EUA do último trimestre, os gastos dos consumidores ainda cresceram em um ritmo decente de 1,8%.

O relatório de empregos do Departamento do Trabalho mostrou na sexta-feira que os empregadores dos EUA criaram 177.000 vagas em abril – cerca de 40.000 a mais do que o previsto – e a taxa de desemprego permaneceu em 4,2%.

As novas previsões trimestrais dos membros do banco central dos EUA só serão divulgadas em junho, portanto, os investidores estarão atentos ao chair do Fed, Jerome Powell, na coletiva de imprensa após a reunião na quarta-feira, para obter pistas sobre a trajetória da taxa de juros.

O Fed tem mantido sua taxa básica de juros na faixa de 4,25% a 4,50% desde dezembro.

As projeções de março das autoridades do Fed apontam para dois cortes nos juros este ano, mas essas projeções parecem obsoletas devido à torrente de notícias sobre comércio desde então, incluindo as tarifas do “Dia da Libertação” de Trump em 2 de abril sobre parceiros comerciais em todo o mundo, sua pausa em muitas dessas taxas uma semana depois para dar tempo de negociar novos acordos comerciais e a imposição de tarifas de 145% sobre a maioria dos produtos chineses.

No mês passado, Powell disse que queria ter “certeza” de que um aumento temporário dos preços impulsionado por tarifas “não se tornaria um problema contínuo de inflação”. Um mercado de trabalho ainda sólido libera o Fed para fazer isso.

“Quando é que as autoridades têm certeza de alguma coisa?”, disse Derek Tang, economista da empresa de previsões LHMeyer. “A certeza parece ser um limite alto, e isso indica que eles estão priorizando a inflação.”

A situação pode mudar rapidamente se o mercado de trabalho começar a se deteriorar, disse Tang, forçando o Fed a ponderar a necessidade de atingir uma inflação baixa em relação à sua obrigação de buscar o pleno emprego. Por enquanto, porém, os economistas da LHMeyer não esperam nenhum corte nos juros este ano.

Cortes

A maioria dos economistas espera que o Fed afrouxe a política monetária em 2025, embora muitos não acreditem que haja evidências suficientes de fraqueza no mercado de trabalho que justifiquem uma resposta até meados do ano.

Após a divulgação do relatório de empregos de abril, os economistas do Barclays disseram acreditar que o Fed não reduzirá os custos dos empréstimos até julho, um prazo que permite maior clareza sobre as tarifas e um projeto de lei de corte de impostos apoiado pelos republicanos.

As apostas do mercado financeiro também mudaram para um início dos cortes em julho, com dois movimentos adicionais ao longo do ano.

“O Fed está em uma situação difícil”, disse Nancy Vanden Houten, economista sênior da Oxford Economics, acrescentando que a equipe da Oxford espera uma “fraqueza real” nos próximos meses, e que o banco central pode enfrentar a perspectiva de uma inflação mais alta e que as expectativas de inflação saiam do controle.

Vanden Houten e seus colegas acreditam que será em dezembro que o Fed reduzirá os juros.

“Parece que eles estão mais distantes de atingir sua meta de inflação, portanto, enquanto o mercado de trabalho se mantiver firme, acreditamos que eles ficarão quietos”, disse ela.

O diretor do Fed Christopher Waller, cujos comentários no passado já prenunciaram as ações do Fed, ofereceu um mapa para a tomada de decisões do banco central que apresentava duas opções – cortes graduais nos juros mais tarde no ano, caso as tarifas sejam reduzidas a um nível mais baixo, e cortes mais agressivos caso elas permaneçam altas.

Um fator importante será o ritmo de mudança na taxa de desemprego: se ela aumentar em mais de 0,1 ponto percentual em um determinado mês, disse Waller, isso seria um gatilho para o Fed agir mais cedo e com maior intensidade.

Em sua opinião, qualquer impacto das tarifas sobre a inflação provavelmente seria apenas temporário.

É improvável que Powell seja tão específico esta semana sobre os planos do Comitê Federal de Mercado Aberto, que define os juros, disseram economistas.

“Esperamos que a principal mensagem da coletiva de imprensa do chair Powell seja a de que o Comitê está bem posicionado para aguardar maior clareza antes de fazer qualquer alteração na política monetária”, escreveu Michael Feroli, economista-chefe do J.P. Morgan para os EUA.

É improvável que essa paciência seja vista como uma virtude dentro da Casa Branca. A decisão do Fed de manter os juros não foi bem recebida por Trump, que continua a pressionar por custos de empréstimos mais baixos.

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