Enquanto o Vaticano se prepara para o conclave que decidirá o sucessor de Papa Francisco, Roma continua a ser palco de encontros secretos e, claro, de refeições bem apreciadas. A culinária simples e tradicional da cidade tem conquistado até os cardeais, que preferem pratos humildes, mas deliciosos. E, como sempre, a discrição é a palavra de ordem, tanto nas eleições papais quanto nas escolhas gastronômicas.
Na movimentada rua perto da Praça de São Pedro, Federica Gianmmaria comanda o restaurante Arlu, uma tradicional casa de massas que, há mais de 60 anos, recebe ilustres visitantes, incluindo os cardeais. “Eles me viram crescer aqui”, diz Federica, que tem um vínculo próximo com muitos deles. Para ela, os cardeais não são apenas clientes, mas amigos. “Eles são muito acessíveis. Eles não vêm apenas pela comida, embora eu espere que seja boa, mas por causa da relação fraternal que desenvolvemos ao longo dos anos.”
Entre as iguarias favoritas desses cardeais estão pratos como o macarrão à carbonara, a burrata fresca e o saltimbocca, um escalope de vitela coberto com presunto cru. “Eles preferem pratos simples, tradicionais”, revela Federica, reforçando o gosto modesto e genuíno dos cardeais por alimentos que capturam a essência de Roma.
A apenas alguns passos dali, o restaurante Il Papalino também atrai os representantes da Igreja, embora sua chef, Anna Maria Scialanga, mantenha o mistério. “Eles vêm o ano todo. Mas não posso dizer quem, pois a discrição é essencial”, explica, enquanto menciona que os cardeais vêm de diversas partes do mundo, como Argentina e norte da Europa. Entre as especialidades que eles adoram estão o macarrão à amatriciana e o gricia, ambos feitos com ingredientes simples, mas cheios de sabor, como o pecorino e a bochecha de porco curada.
Mas o cenário não é mais o mesmo desde o funeral do Papa Francisco, de acordo com Benito Cannizzaro, dono da pizzaria Marcantonio. “Normalmente recebíamos muitos cardeais, mas agora eles desapareceram um pouco. A presença deles diminuiu muito desde a morte do Papa”, lamenta, observando que agora os restaurantes estão mais cheios de jornalistas do que de clérigos.
Sorveteria
Se você estiver passeando pelas ruas e parar para tomar um gelato, talvez tenha a sorte de esbarrar em um cardeal. A sorveteria L’Arena del Gelato, perto da Via Borgo Pio, é um lugar onde o mundo da Igreja e o prazer de um bom sorvete se encontram. “Durante 13 anos, muitos cardeais vieram aqui”, conta Giuseppe Longobardi, dono da sorveteria, que lembra com carinho dos encontros com o cardeal canadense Thomas Christopher Collins. “Ontem, o cardeal da Nicarágua esteve aqui, vestido como um simples padre”, diz ele, destacando como os cardeais preferem manter o anonimato, até quando estão saboreando um dos 24 sabores da loja.
A sorveteria, que criou o sabor doce de leite em homenagem à eleição de Papa Francisco, ainda guarda o mistério sobre os planos para o futuro, caso surja um novo Papa. “Ainda não temos um sabor para o futuro Papa”, diz Giuseppe, enquanto mostra o popular “vaticono”, um crepe fresco em formato de cone, que serve como recipiente para as bolas de sorvete.
