
Nesta semana, um ataque de onça-pintada a um caseiro, nas margens do rio Miranda, em Aquidauana (MS), acendeu alerta entre moradores e visitantes do Pantanal.
O episódio, que terminou com a morte do homem e a subsequente captura do animal, rapidamente se espalhou pelas redes sociais, alimentando receios sobre a presença do maior felino das Américas em áreas habitadas. No entanto, especialistas apontam que o comportamento agressivo observado neste caso é fora da curva — e não representa um padrão.
“Esses ataques são extremamente raros e sempre envolvem situações de exceção”, explica Carol Machado, bióloga e médica veterinária especializada em animais silvestres, responsável técnica pelo projeto Habitá e pelo Instituto Libio.
“Em condições normais, a onça evita o contato com pessoas. Os poucos registros geralmente envolvem animais feridos, acuados, com filhotes por perto ou surpreendidos por humanos.”
Estresse ambiental como gatilho
Fatores como fome extrema, doenças ou a perda acelerada de habitat natural são elementos que aumentam significativamente o risco de conflitos entre humanos e onças. O avanço do desmatamento, queimadas e barulho constante têm pressionado os animais a buscar alimento em áreas antes inexploradas.
“A escassez de presas, associada a alterações no ambiente, pode levar uma onça a se aproximar de currais, trilhas e até residências em busca de comida. Esse contato forçado cria situações de tensão e risco, principalmente se o animal estiver fragilizado ou desorientado”, explica Carol.
O instinto ainda é evitar confronto
De forma geral, o comportamento da onça ao encontrar um ser humano é de cautela. “São animais extremamente furtivos. Na imensa maioria das vezes, se afastam em silêncio ao perceberem a presença humana”, afirma Carol. “A territorialidade existe, mas não é um gatilho para o ataque. Elas observam, avaliam o risco e recuam.”
Entretanto, o cenário muda em regiões onde há contato frequente com humanos, como zonas de ecoturismo ou áreas rurais. “Onças que vivem em áreas com presença constante de pessoas podem se tornar mais tolerantes. O problema é quando ocorre a prática ilegal de cevar animais — oferecer alimento de forma proposital. Isso quebra uma barreira importante entre humanos e fauna, e pode gerar um comportamento anormal e perigoso”, alerta.
Como agir ao encontrar uma onça?
Em caso de encontro com uma onça-pintada na natureza, a recomendação principal é manter a calma. “Não corra. Isso pode acionar o instinto de perseguição. Recuar lentamente, sem movimentos bruscos, e falar em voz firme ajuda a não ser visto como ameaça”, orienta a bióloga. Olhar diretamente nos olhos deve ser evitado, assim como gritos, gestos agressivos ou tentativas de fotografar o animal de perto.
“O erro humano é, muitas vezes, o fator que agrava essas situações. A negligência ou imprudência pode custar caro, não apenas para as pessoas, mas principalmente para os animais, que acabam sendo perseguidos ou mortos injustamente”, conclui Carol.