A compreensão da parte psiquiátrica do cérebro ainda enfrenta desafios significativos, segundo o neurocirurgião Paulo Niemeyer, diretor do Instituto Estadual do Cérebro no Rio de Janeiro. Em entrevista ao programa CNN Sinais Vitais, o especialista abordou a complexa relação entre o cérebro e condições como depressão e ansiedade.
Niemeyer explicou que, em casos de doenças psiquiátricas, o cérebro geralmente apresenta um aspecto normal em exames de imagem e estudos anatômicos. “Ali há uma alteração química, que não é perceptível pelos exames”, afirmou o neurocirurgião, destacando a dificuldade em identificar visualmente essas condições.
Para ilustrar a complexidade do tema, Niemeyer compartilhou um caso intrigante de sua experiência clínica. Ele relatou ter removido um tumor do lobo frontal de um paciente. Surpreendentemente, seis meses após o procedimento, o paciente retornou com uma mudança significativa em seu estado emocional.
“Dr. Paulo, eu era um deprimido, passei a infância, a minha adolescência, num quarto escuro e nunca tive amigos”, contou o paciente ao médico. “E depois dessa cirurgia, eu já arranjei amigos, estou namorando”. O neurocirurgião observou que a manipulação do lobo frontal durante a cirurgia aparentemente desfez algum circuito mal funcionante, resultando em uma melhora inesperada dos sintomas depressivos do paciente.
Este caso, embora isolado, sugere a existência de um substrato anatômico nas regiões cerebrais relacionadas a condições psiquiátricas. Niemeyer ressaltou que muitas vezes essas condições estão ligadas a desequilíbrios de neurotransmissores e química cerebral.
O neurocirurgião concluiu enfatizando que ainda há muito a ser descoberto na área da depressão e de outras doenças psiquiátricas. A complexidade dessas condições, que não apresentam alterações visíveis em exames convencionais, continua a desafiar pesquisadores e clínicos, abrindo caminho para futuras investigações e avanços no campo da neuropsiquiatria.
Este conteúdo foi originalmente publicado em “Parte psiquiátrica do cérebro é mal compreendida”, avalia neurocirurgião no site CNN Brasil.