Gleisi inicia articulação em meio à crise no PT e negociações no Congresso

No primeiro dia como ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann dividiu-se entre conter crises internas do PT e iniciar articulações políticas com líderes da esquerda e do centro.

Ainda na manhã de terça-feira (11), ela se reuniu com Edinho Silva (PT), ex-prefeito de Araraquara (SP) e nome preferido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para sucedê-la na presidência do partido. O encontro, que durou cerca de 40 minutos, abordou questões internas da legenda.

A reunião ocorreu em meio a um racha no PT, desencadeado após o vazamento de um encontro reservado entre Gleisi, Lula e outras lideranças em sua casa, na semana passada. Na ocasião, a ministra teria se posicionado contra a indicação de Edinho.

O episódio ampliou e tornou pública a divisão entre apoiadores e críticos da escolha, levando a corrente majoritária do partido, a Construindo um Novo Brasil (CNB), a divulgar uma nota oficial sobre o tema. O texto afirmava que a reunião com Lula buscava a “unidade” do partido, mas acabou sendo usada como “instrumento de luta interna” após o vazamento do encontro.

Sugestões de agenda e defesa do governo

Paralelamente, Gleisi iniciou sua atuação no Congresso Nacional, se dedicando a ouvir líderes partidários. No início da tarde de terça, almoçou com líderes da base aliada no Palácio do Planalto. Estiveram presentes os deputados Mário Heringer (PDT), Pedro Campos (PSB), Renildo Calheiros (PCdoB), Luciano Amaral (PV), Talíria Petrone (PSOL), José Guimarães (PT) e Lindbergh Farias (PT).

O objetivo do encontro foi ouvir a percepção dos parlamentares mais alinhados ao governo antes de avançar nas tratativas com partidos de centro. A conversa serviu para tratar sobre o futuro da aliança de esquerda.

À CNN, deputados que participaram da conversa disseram que a ministra concentrou o discurso em dois eixos: o desafio do governo em votações no Congresso e a preparação para a campanha de 2026.

Após o encontro, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que a reunião teve como foco “deixar o diálogo pavimentado” e “pacificar o ambiente”.

Medidas econômicas

No encontro com líderes alinhados ao governo, Gleisi ainda reiterou como prioridade zero do Planalto, neste momento, a votação do projeto que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil. À CNN, o ministro da Fazenda disse que a proposta está com o presidente Lula e deverá ser encaminhada ao Congresso ainda neste mês. A expectativa dos líderes é de que a proposta comece a ser analisada na próxima semana.

A ministra da articulação política também ponderou preocupação com a votação do orçamento de 2025, paralisado em meio ao último embate entre Legislativo e Judiciário sobre emendas parlamentares.

Aos líderes de esquerda, Gleisi Hoffmann pediu enfrentamento no plenário da Câmara e nas respectivas bases eleitorais. Além de elogios e cumprimentos pela nova posição, a ministra recebeu sugestões dos deputados que cobram do governo expandir o diálogo com setores da sociedade, a exemplo da classe média.

Alguns chamaram a atenção para a necessidade de o governo compreender melhor e se aproximar do novo empreendedor e aproveitar a oportunidade para investir em projetos que conversem com esse grupo. A dificuldade de diálogo com empreendedores acendeu alerta vermelho na esquerda, ainda nas eleições municipais, quando a direita se mostrou mais apta a convencer esses eleitores.

Base de apoio para 2026

A principal missão de Gleisi como ministra será negociar com lideranças partidárias a formação de uma base de apoio para a eventual reeleição de Lula em 2026. Gleisi assume o ministério em um momento difícil para o presidente, que enfrenta queda na popularidade e tensão na relação com partidos do Centrão.

A ausência de uma marca foi apontada como preocupação entre os líderes que cobraram o governo para “virar a página” do slogan União e Reconstrução e adotar novas estratégias.

Ainda na noite de terça, a nova ministra recebeu líderes de centro em um jantar. Na ocasião, manteve um discurso conciliatório. A nova articuladora política do governo disse que está de “portas abertas” para dialogar.

Entre os presentes estavam o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e os líderes do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), do PSD, Antonio Brito (BA), e do PP, Dr. Luizinho (RJ).

Segundo relatos feitos à CNN, Hugo e líderes do centro concordaram que o governo precisa enxugar a agenda e escolher quais são as prioridades para 2025. A agenda levada ao Congresso pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), apresenta 25 propostas prioritárias para votação. O projeto de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil voltou a ser mencionado em apelo para que seja aprovado com apoio da base.

Ainda no encontro, líderes elogiaram o que consideram uma ambiente “mais pacificado” com o STF, após o acordo envolvendo o pagamento das emendas parlamentares. Apesar disso, segue no radar dos parlamentares investigações que estão em curso na Corte contra deputados.

Gleisi e Hugo x Padilha e Lira

Durante o encontro com líderes na noite de terça, parlamentares também recordaram dificuldades no relacionamento entre Legislativo e Executivo sob a gestão de Arthur Lira (PP-AL), enquanto presidente da Câmara, e Alexandre Padilha, enquanto ministro responsável pela articulação política.

Lira e Padilha acumularam uma série de broncas e reclamações públicas ao longo dos últimos anos. No ano passado, Lira chegou a chamar o então ministro das Relações Institucionais de Lula de “desafeto pessoal” e “incompetente”. Os embates fizeram com que os dois deixassem de se falar, tendo um impacto na aprovação de medidas consideradas importantes pelo Planalto no Congresso.

Agora, líderes avaliam que o momento é outro, sobretudo porque Gleisi mantém uma boa relação com o atual presidente da Câmara, Hugo Motta. A petista também foi responsável por articular o apoio do PT à candidatura de Motta.

Próximas articulações

Entre os desafios imediatos de Gleisi no Congresso está a aprovação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025. A ministra terá sua primeira grande prova no cargo na próxima semana, com a votação da proposta na Comissão Mista de Orçamento (CMO), prevista para o dia 18. Caso aprovada, a matéria segue para o plenário da Câmara no dia 19.

Nesta quarta-feira (12), Gleisi deve se reunir com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para discutir possíveis ajustes no Orçamento. À tarde, se encontrará com o relator da proposta, senador Angelo Coronel (PSD-BA), e com o presidente da CMO, deputado Júlio Arcoverde (PP-PI).

O Orçamento de 2025 deveria ter sido aprovado no ano passado, mas impasses relacionados às emendas parlamentares atrasaram o processo. Agora, com um acordo costurado entre o Congresso e o Planalto – e validado pelo STF –, a expectativa entre governistas é pela aprovação do projeto.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Gleisi inicia articulação em meio à crise no PT e negociações no Congresso no site CNN Brasil.

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