PIB desacelera no fim de 2024 com impactos de juros e inflação

A alta dos juros, a inflação e a sazonalidade são motivos que ajudam a explicar o crescimento de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) na comparação entre o quarto e o terceiro trimestre de 2024, apontam analistas ouvidos pela CNN.

O número veio abaixo dos 0,5% esperados pelo mercado financeiro.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o dado na manhã desta sexta-feira (7). No acumulado do ano, a soma de todos os bens e serviços finais produzidos no país teve uma alta de 3,4% ante 2023.

Para Carla Beni, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) e conselheira do Conselho Regional de Economia – 2ª Região (Corecon-SP), a elevação da Selic a partir da segunda metade do ano passado teve impacto no PIB no quarto trimestre.

O Banco Central (BC) iniciou a elevação da taxa básica de juros em setembro do ano passado. A Selic cresceu 3,25 pontos percentuais, passando de 10,5% para os atuais 13,75%.

“A política monetária provoca uma retração da liquidez da economia, inclusive dos investimentos e do crédito, porque aumenta o custo do dinheiro. O consumo das famílias e os investimentos das empresas acabam desacelerando, o que percebemos na medição do PIB por trimestre”, afirma Beni.

O consumo das famílias registrou um recuo de 1% no quarto trimestre de 2024, em relação ao terceiro trimestre, segundo o IBGE.

Esse resultado aponta para a primeira taxa negativa desde o segundo trimestre de 2021, em meio à pandemia de Covid-19.

A Formação Bruta de Capital Fixo, indicador do quanto as empresas aumentaram os seus bens de capital para produção, variou 0,4% na comparação trimestral.

O número aponta um impacto da Selic na desaceleração de investimentos, avalia o Banco Inter em relatório divulgado ao mercado.

“A Formação Bruta de Capital Fixo teve variação positiva de 0,4%, mas foi uma forte desaceleração em relação ao ritmo de crescimento dos trimestres anteriores. Apesar de impulsionado pelas concessões e privatizações, o investimento também começa a sentir o impacto da política monetária mais restritiva”, escreveu.

Na avaliação do Santander, os dados do PIB confirmam a expectativa de desaceleração econômica no quarto trimestre de 2024. O banco destaca que os recentes resultados negativos no varejo e nos serviços tiveram um peso maior do que o esperado, porém não observa influência da Selic.

“Ainda não vemos a Selic como responsável pelo resultado, dado que a defasagem dos efeitos da política monetária é maior (a primeira alta de 1 p.p. ocorreu em dezembro). A inflação pode ter tido impacto relevante sobre o consumo também, na nossa avaliação”, disse Gabriel Couto, economista do Santander.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a taxa de inflação oficial do país, fechou em 4,83% em 2024, de acordo com dados divulgados pelo IBGE em janeiro.

O número está acima do limite da meta estabelecida pelo governo federal.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, acrescenta que a sazonalidade explica índices de crescimento menores no segundo semestre.

“O fato de o agro e as exportações da produção de grãos estarem mais concentrados no primeiro semestre, assim como o reajuste do salário mínimo, também pode ter tido impacto sobre a desaceleração do final do ano passado”, finaliza.

Este conteúdo foi originalmente publicado em PIB desacelera no fim de 2024 com impactos de juros e inflação no site CNN Brasil.

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