Isolamento e paranoia: a vida de Mauro Cid após delação contra Bolsonaro

Desde que teve sua delação premiada tornada pública pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o tenente-coronel Mauro Cid, peça-chave na investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre uma tentativa de golpe de Estado, tem levado uma vida de reclusão. Morando no Setor Militar Urbano, em Brasília, a poucos quilômetros do Palácio do Planalto, ele evita ser fotografado, mantém as janelas fechadas e faz raras aparições públicas.

Vizinhos relatam que Cid foi visto recentemente saindo para uma caminhada de menos de cinco minutos até o restaurante Costelita, frequentado por oficiais de alta patente. No local, ele adota um comportamento discreto: pega sua refeição e retorna rapidamente para casa, sem interagir com ninguém. Um general que tentou cumprimentá-lo comentou que o ex-ajudante de ordens parecia “abatido e arredio” e sequer notou sua presença.

A delação, homologada em setembro de 2023, levou ao uso obrigatório de tornozeleira eletrônica, o que faz com que Cid só saia de casa vestindo calças compridas. Amigos próximos afirmam que ele está cada vez mais desconfiado, acreditando que até mesmo familiares e pessoas próximas podem estar repassando informações para a polícia e a imprensa. Segundo relatos, ele mudou suas rotas de deslocamento por acreditar que seu carro está sendo monitorado.

“Minha vida acabou”, desabafou Cid à Justiça em março de 2024. Desde então, ele vive cercado de restrições. A rua onde mora tem a circulação controlada por militares, com cones bloqueando parte do acesso. Apenas moradores e pedestres podem transitar na área.

Prisões e reviravoltas na investigação

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro já foi preso duas vezes: entre maio e setembro de 2023 e novamente entre março e maio de 2024. Em ambas as ocasiões, sua detenção esteve ligada a revelações de mensagens extraídas de seu celular, que foram fundamentais para a investigação da PGR.

Sua primeira aparição pública após a soltura, em novembro de 2023, foi marcada por um tom contido. Na época, ao ser questionado pelo jornal O Globo sobre sua rotina, respondeu apenas: “Está tudo tranquilo.”

No entanto, a calmaria durou pouco. Em março de 2024, áudios divulgados pela revista Veja revelaram críticas de Cid à Polícia Federal e ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. A gravação resultou em uma nova prisão, que durou dois meses. Seus advogados alegaram que os áudios eram apenas um “desabafo”.

Apesar do impacto que a delação causou em sua vida pessoal, aliados do militar acreditam que os depoimentos fornecidos à Justiça reforçam sua versão de que era apenas um “executor de ordens e mensageiro de recados”. O próprio Cid teria relatado a pessoas próximas um certo “alívio” com a divulgação do conteúdo da delação, pois agora não há mais incertezas sobre suas declarações.

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