Tradicional ritual afro-brasileiro, Noite dos Tambores Silenciosos leva magia ancestral para as ladeiras de Olinda


Foliões pedem bençãos e paz para os dias de carnaval. Cortejo reúne grupos de maracatu e segue até a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Percussionistas participam da Noite dos Tambores Silenciosos em Olinda
Sincretismo e tradição popular seguem fortes em mais uma Noite dos Tambores Silenciosos celebrada pelas ruas do Sítio Histórico de Olinda. O cortejo, realizado este ano entre a noite da segunda (24) e as primeiras horas da terça (25), é uma das principais manifestações afro-brasileiras do carnaval pernambucano.
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A celebração em homenagem à ancestralidade do povo preto surgiu a partir das irmandades religiosas criadas ainda no período colonial. Atualmente, o cortejo parte da Praça da Matriz de São Pedro, no Carmo, e segue até o largo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, considerada padroeira da população negra.
Durante a cerimônia, a frente da igreja é banhada de perfume. Ao final do ritual religioso, que dura aproximadamente meia hora, acontece o rufar dos tambores, que permanecem em silêncio durante toda a celebração.
A batucada final é acompanhada tradicionalmente por uma queima de fogos. Este ano o ritual homenageou o babalorixá Tata Raminho de Oxóssi.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, onde acontece a cerimônia religiosa, é um espaço sagrado e símbolo de resistência afro-brasileira desde o século XVII. É lá onde os foliões pedem proteção e paz aos ancestrais.
O produtor Franklin Renato acompanhou o cortejo desde a concentração. Para ele, é um momento de se energizar e preparar o corpo espiritualmente para a folia.
“A gente pede proteção aos orixás para poder brincar o carnaval em paz, com muita saúde. Não tem explicação; o corpo arrepia, a alma transborda de alegria quando nós vemos as nações pedindo paz para toda a população. É muito lindo”, disse.
A cerimônia foi acompanhada pelos batuques de grupos de maracatu. Entre eles:
Maracatu Nação Leão Coroado
Maracatu Nação Camaleão
Maracatu Nação Badia
Maracatu Nação Maracambuco
Maracatu Nação de Luanda
Maracatu Nação Pernambuco
Maracatu Nação Estrela de Olinda
Maracatu Nação Tigre
Maracatu Sol Brilhante de Olinda
A tradição passa de geração em geração. Josélia Farias é baiana do Maracatu Leão Coroado há dois anos, quando herdou o posto da sogra. As baianas, também conhecidas como iabás, fazem parte do cortejo dos maracatu nação, chamados ainda de maracatu de baque virado.
“Hoje é a noite dos ancestrais. Muita energia boa abrindo o carnaval, pedindo aos ancestrais que protejam, que estejam conosco durante o carnaval todo, que é para tudo dar certo. Minha sogra fazia parte do maracatu, daí eu peguei o legado. A gente foi fazer uma apresentação, uma homenagem ao maracatu, alguns dias depois que ela tinha falecido, e também fez uma homenagem a ela. Eu saí de baiana e foi aí que eu fiquei”, relembrou.
Amanda Amorim é fisioterapeuta, mas, desde 2024 a percussão também entrou em sua vida, quando ela conheceu a Noite dos Tambores Silenciosos.
“Fiquei deslumbrada, parecia uma turista. Tipo, ‘caraca, como que eu nunca tinha vindo aqui antes?’ Senti essa pulsação das toadas, dos tambores, da galera dançando. Acompanhei até o final e fui acompanhando o Leão por ter amigos que tocam. Comecei a tocar no [grupo percussivo] Batadoni. Acho que quando você vai conhecendo, você vai entendendo a potência do maracatu e da cultura que ela tem para a gente”, contou.
Maracatu Leão Coroado se apresenta na Noite dos Tambores Silenciosos
TV Globo/Reprodução
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