Justiça nega pedido após advogados usarem Vila do Chaves em jurisprudência

Justiça de Foz do Iguaçu, no Paraná, negou um pedido de tutela antecipada e demandou a alteração de uma manifestação nos autos após um argumento peculiar ser proposto no pedido.

A Justiça determinou a correção devido à inclusão de uma referência não confirmada e a possibilidade de um caso fictício da “Vila do Chaves” ter sido usado pelo advogado. Na decisão, o magistrado solicitou que a petição inicial também fosse emendada.

A decisão tem repercutido em canais e veículos especializados em direito por tratar, sobretudo, de um caso envolvendo uma das séries mais famosas e populares da América Latina. A CNN buscou dois especialistas em direito civil para analisar o caso e a decisão proferida na justiça paranaense.

O juiz observou que os autores utilizaram um caso de uma decisão da “Vila do Chaves” para argumentar a favor do pedido, mencionando que “o Juiz de Direito Dr. Seu Madruga decidiu que a ré deveria ser condenada pelo dano causado”. Para o especialista, Kevin de Sousa, a seriedade da ação exige que os argumentos se baseiem em decisões reais.

“É necessário provar que há um direito claro e um risco de dano irreparável (para tutela antecipada). […] O processo judicial exige que os argumentos sejam baseados em decisões reais, e essa correção foi necessária para manter a seriedade da ação”, Kevin de Sousa.

De acordo com Vanderlei Garcia Jr, o apontamento de uma “suposta jurisprudência” deveria ser balizada por decisões anteriores de tribunais que servem como referência para casos semelhantes.

“Obviamente, para citar uma jurisprudência corretamente, é necessário referir-se a decisões reais, indicando o Tribunal que a proferiu, o número do processo, a data do julgamento, o nome do julgado (Desembargador ou Ministro) e, preferencialmente, os trechos relevantes da decisão que se aplicam ao caso em questão”, afirma Garcia Jr.

Realidade e ficção

A decisão aponta que o problema na petição inicial foi a inclusão de um exemplo de um caso judicial sem fonte verificável, levantando a suspeita de que o exemplo poderia ser baseado em personagens fictícios.

O juiz considerou que essa falta de fonte levantava a possibilidade de que o caso mencionado fosse fictício, já que a menção a “Dr. Seu Madruga” sugere um personagem fictício. Os especialistas explicam que casos fictícios podem ser usados no debate acadêmico e explicações didáticas, mas nunca como base para um pedido na Justiça.

“No processo, as argumentações devem ser fundamentadas em leis, decisões judiciais reais e documentos oficiais”, afirma Kevin.

Devido a essa possibilidade, o juiz determinou a emenda da petição inicial, solicitando que o trecho referente ao caso da “Vila do Chaves” fosse excluído em 15 dias.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Justiça nega pedido após advogados usarem Vila do Chaves em jurisprudência no site CNN Brasil.

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