Após abusos na infância, mulher vira policial e prende próprio agressor 

Uma história de superação e justiça marcou a vida de Jessica Martinelli, que após ter sido vítima de abuso sexual na infância, transformou sua dor em força e se tornou policial civil em Chapecó, Santa Catarina. Em um capítulo emocionante de sua trajetória, Jessica prendeu o próprio agressor, um amigo da família, 16 anos após o início dos abusos. As informações são do g1.

Aos 33 anos, Jessica decidiu compartilhar sua experiência em um livro intitulado “A Calha”, lançado no final do ano passado. A obra não apenas narra os horrores que ela enfrentou, mas também revela as dificuldades que encontrou ao denunciar o crime às autoridades.

“Por ser uma história que eu sei que motiva as vítimas a denunciarem, a contar. Além de trazer uma certa justiça, porque muitas vítimas, eu ouvi isso, que a minha ação, o meu ato, de certa forma, trouxe conforto para elas. Porque muitas não têm mais como, pela questão de tempo, já não têm mais como prender o agressor”, desabafou Jessica ao g1.

Os abusos começaram quando Jessica tinha apenas 9 anos e se prolongaram por cerca de dois anos e meio. O agressor, um homem de 33 anos na época, aproveitou da proximidade com a família para cometer os crimes.

Assim como muitas vítimas de violência, Jessica relutou em compartilhar o que estava acontecendo dentro de sua própria casa. “Mas eu tinha necessidade de desabafar. Então eu desabafava com amigas do colégio, ou uma vizinha minha”, contou.

Aos 15 anos, Jessica finalmente encontrou a coragem para revelar os abusos à sua irmã, que a encorajou a denunciar o caso à polícia. No entanto, ao buscar ajuda nas autoridades, Jessica se deparou com uma série de obstáculos e dificuldades. “Eu tive que repetir milhares de vezes a mesma coisa, sabe?”, lamentou.

Apesar dos desafios, Jessica não desistiu de buscar justiça. Sua experiência traumática a motivou a seguir a carreira policial, buscando a força e a coragem que ela tanto admirava nas mulheres policiais. “Eu olhava as fotos das mulheres policiais e eu via uma coisa que eu queria muito ter, que era a força. Essa força, essa coragem”, revelou.

Após anos de trabalho na Polícia Civil, Jessica finalmente teve a oportunidade de confrontar seu agressor. Em 22 de dezembro de 2016, durante uma operação policial, ela prendeu o homem que a havia violentado na infância.

Jessica conta o momento que prendeu o homem

“Quando nós estávamos indo, era como se eu tivesse voltado aos 11 anos de idade. Eu estava dentro da viatura, mas eu tinha um misto de coragem: ‘Eu sou uma policial, eu vim prender o cara que fez tudo que fez comigo’. E, ao mesmo tempo, dava aquela tremedeira, muita ansiedade, medo. Sei lá, medo de ele fazer alguma coisa para mim”, relembrou Jessica.

O momento de prender o agressor foi carregado de emoção e simbolizou o encerramento de um ciclo doloroso em sua vida. “Os meus colegas o revistaram, mas fui eu que bati a porta da cela. E a sensação realmente de encerramento de um ciclo de 10 anos. Um ciclo muito doloroso, que nenhuma vítima deveria ter que passar”, desabafou.

Embora o agressor já tenha sido solto, Jessica espera que sua história inspire outras vítimas a denunciarem seus agressores e buscarem justiça. “Primeiramente, eu diria para elas: ‘Você não tem culpa. Não tem culpa nenhuma’. No meu caso, eu me sentia culpada porque eu estava de biquíni, porque eu era mulher, porque eu era uma criança, uma menina. E eu me sentia culpada por não contar. Então, respeite a sua história”, aconselhou.

Jessica ressalta a importância de buscar apoio e compartilhar a experiência com alguém de confiança. “Não deixe isso armazenado, pensando ‘eu não vou contar para alguém e isso vai passar’. Porque não passa. Vai ter um momento que você vai estourar”, alertou.

Acima de tudo, Jessica incentiva as vítimas a denunciarem seus agressores. “Aconselho também a denunciar. Eu acredito que a prisão do teu autor faz com que isso auxilie no ciclo da cura”, finalizou.

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